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A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

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A <strong><strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>mente</strong> <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e Psicanálise<br />

já citei no segundo capítulo deste trabalho, instigava seus bailarinos com<br />

perguntas a respeito de suas vi<strong>da</strong>s. Diferente<strong>mente</strong> <strong>da</strong> Psicanálise, em<br />

que o terapeuta não inicia lançando perguntas, mas deixando o paciente<br />

falar o que deseja. No tratamento terapêutico, a “pergunta” encontra-se no<br />

ambiente analítico, mas é o paciente que escolhe o assunto a ser abor<strong>da</strong>do.<br />

A associação livre, principal técnica psicanalítica, pode ser<br />

considera<strong>da</strong> também um método utilizado por <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> no seu processo<br />

de criação coreográfica. Apesar de <strong>Pina</strong> iniciar perguntando e do terapeuta<br />

iniciar escutando, tanto em um processo quanto em outro, a busca pelo<br />

acesso ao inconsciente ocorre através de uma fala dos bailarinos e do<br />

paciente com características comuns: ausência de censura, julgamentos,<br />

relações lógicas, ordem cronológica, regras, fórmulas. É uma fala, dentro do<br />

possível, sem filtros, é o deixar-se levar. Segundo Márcia de Campos:<br />

A associação livre proposta pela Psicanálise abre caminho<br />

para um inconsciente que é estruturado por contigui<strong>da</strong>de,<br />

de forma que, se prestarmos mais atenção, concluiremos<br />

que as associações não são tão livres assim, pois percorrem<br />

o caminho <strong>da</strong>s representações que foram previa<strong>mente</strong><br />

conecta<strong>da</strong>s e que juntas adquirem um sentido (2008, p. 4).<br />

A Psicanálise apropria-se dessa fala com o objetivo de transformála<br />

em novos comportamentos, em elaboração. A <strong><strong>da</strong>nça</strong> de <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong><br />

quer transformá-la em movimento, em arte. Segundo Hoghe (1989, p 14),<br />

<strong>Bausch</strong>, quando formulava suas perguntas aos bailarinos, salientava que<br />

“critérios como certo ou errado não têm agora nenhuma importância”.<br />

A coreógrafa dizia aos seus intérpretes: “pense sem preocupações,<br />

um pouco assim... como vem” (HOGHE, 1989, p. 14). A meu ver, essa<br />

busca pela ausência de restrições na fala dos bailarinos assemelha-se<br />

ao discurso do paciente na sessão terapêutica, quando esse coloca em<br />

palavras emoções, conflitos e situações diversas. E me parece que <strong>Pina</strong><br />

concor<strong>da</strong>ria com Freud quando o mesmo afirma que a autocrítica pode<br />

impedir que determinados sentimentos se manifestem.<br />

Sendo assim, possivel<strong>mente</strong> muitos desejos <strong>da</strong> pessoa<br />

poderiam ser sufocados em função de um senso crítico<br />

exagerado, o que provavel<strong>mente</strong> poderia limitar no<br />

intérprete a experiência <strong>da</strong> potenciali<strong>da</strong>de expressiva e<br />

criativa (BRITO, 2006, p. 59).

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