A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
52<br />
A <strong><strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>mente</strong> <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e Psicanálise<br />
já citei no segundo capítulo deste trabalho, instigava seus bailarinos com<br />
perguntas a respeito de suas vi<strong>da</strong>s. Diferente<strong>mente</strong> <strong>da</strong> Psicanálise, em<br />
que o terapeuta não inicia lançando perguntas, mas deixando o paciente<br />
falar o que deseja. No tratamento terapêutico, a “pergunta” encontra-se no<br />
ambiente analítico, mas é o paciente que escolhe o assunto a ser abor<strong>da</strong>do.<br />
A associação livre, principal técnica psicanalítica, pode ser<br />
considera<strong>da</strong> também um método utilizado por <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> no seu processo<br />
de criação coreográfica. Apesar de <strong>Pina</strong> iniciar perguntando e do terapeuta<br />
iniciar escutando, tanto em um processo quanto em outro, a busca pelo<br />
acesso ao inconsciente ocorre através de uma fala dos bailarinos e do<br />
paciente com características comuns: ausência de censura, julgamentos,<br />
relações lógicas, ordem cronológica, regras, fórmulas. É uma fala, dentro do<br />
possível, sem filtros, é o deixar-se levar. Segundo Márcia de Campos:<br />
A associação livre proposta pela Psicanálise abre caminho<br />
para um inconsciente que é estruturado por contigui<strong>da</strong>de,<br />
de forma que, se prestarmos mais atenção, concluiremos<br />
que as associações não são tão livres assim, pois percorrem<br />
o caminho <strong>da</strong>s representações que foram previa<strong>mente</strong><br />
conecta<strong>da</strong>s e que juntas adquirem um sentido (2008, p. 4).<br />
A Psicanálise apropria-se dessa fala com o objetivo de transformála<br />
em novos comportamentos, em elaboração. A <strong><strong>da</strong>nça</strong> de <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong><br />
quer transformá-la em movimento, em arte. Segundo Hoghe (1989, p 14),<br />
<strong>Bausch</strong>, quando formulava suas perguntas aos bailarinos, salientava que<br />
“critérios como certo ou errado não têm agora nenhuma importância”.<br />
A coreógrafa dizia aos seus intérpretes: “pense sem preocupações,<br />
um pouco assim... como vem” (HOGHE, 1989, p. 14). A meu ver, essa<br />
busca pela ausência de restrições na fala dos bailarinos assemelha-se<br />
ao discurso do paciente na sessão terapêutica, quando esse coloca em<br />
palavras emoções, conflitos e situações diversas. E me parece que <strong>Pina</strong><br />
concor<strong>da</strong>ria com Freud quando o mesmo afirma que a autocrítica pode<br />
impedir que determinados sentimentos se manifestem.<br />
Sendo assim, possivel<strong>mente</strong> muitos desejos <strong>da</strong> pessoa<br />
poderiam ser sufocados em função de um senso crítico<br />
exagerado, o que provavel<strong>mente</strong> poderia limitar no<br />
intérprete a experiência <strong>da</strong> potenciali<strong>da</strong>de expressiva e<br />
criativa (BRITO, 2006, p. 59).