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A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

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31<br />

Maria Tereza Furtado Travi<br />

A repetição, segundo Deleuze, é fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na ideia de ser uma conduta<br />

necessária, insubstituível e singular. A alma entra nesse critério; “não há<br />

possibili<strong>da</strong>de de trocar de alma” (DELEUZE, 2006, p. 20).<br />

Repetir é atuar em relação a algo único, que não tem semelhança.<br />

Repete o singular, o original, e esta é uma característica <strong>da</strong> obra de arte.<br />

Nesse sentido, ca<strong>da</strong> vez que se apresenta uma coreografia, é uma repetição,<br />

mas única, original, pois esse processo não envolve só a cabeça, mas<br />

também a alma, que é o “objeto amoroso <strong>da</strong> repetição” (DELEUZE, 2006,<br />

p. 20). Isso torna a repetição uma transgressão, não uma generali<strong>da</strong>de.<br />

Revela uma reali<strong>da</strong>de mais profun<strong>da</strong> e artística. A generali<strong>da</strong>de relacionase<br />

com as leis e a repetição, com a alma. Não é propósito deste trabalho<br />

desenvolver os conceitos desse autor tão complexo e importante dentro <strong>da</strong>s<br />

áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, mas trazer algumas de suas reflexões tão oportunas.<br />

Nos dicionários de língua portuguesa, a definição de “repetir” ou<br />

“repetição” vem associa<strong>da</strong> a “fazer nova<strong>mente</strong>”, “imitar”, “reproduzir”. Mas<br />

a pergunta que fica, com base nas reflexões propostas por Deleuze, é:<br />

se considerarmos que ca<strong>da</strong> um possui múltiplas vozes que formam seu<br />

modo de ser e agir, é possível alguém repetir exata<strong>mente</strong> o que outro<br />

fez? Se pensarmos na ação isola<strong>da</strong>, sim. Por exemplo: dois bailarinos<br />

podem fazer a mesma sequência coreográfica cria<strong>da</strong> por <strong>Bausch</strong>. O que<br />

a coreógrafa quer e valoriza é justa<strong>mente</strong> uma repetição que vai além de<br />

simples<strong>mente</strong> executar os mesmos passos, mas sim colocar naquilo que<br />

outro fez o que é seu. Dessa forma, se pensarmos a repetição em termos<br />

de “alma”, considerando que to<strong>da</strong> ação tem uma parcela de individuali<strong>da</strong>de,<br />

de particulari<strong>da</strong>de que é diferente em ca<strong>da</strong> um, penso que seja coerente<br />

dizer que não existe a repetição total, mas apenas a parcial, liga<strong>da</strong> ao ato,<br />

à ação em si.<br />

Essa constatação pode servir para qualquer ação. Porém,<br />

considerando a prática <strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>nça</strong>, no momento que um movimento passa de<br />

um corpo para outro, a repetição já está contamina<strong>da</strong> por to<strong>da</strong> a bagagem<br />

do corpo que vai repetir possui. Essa contaminação é inevitável já que,<br />

na <strong><strong>da</strong>nça</strong>, o corpo é o instrumento dessa arte. O mesmo corpo que sofre,<br />

come, dorme, lê, relaciona-se com as pessoas é o corpo <strong><strong>da</strong>nça</strong>nte.<br />

Percebo que algumas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de <strong><strong>da</strong>nça</strong> tentam anular essa<br />

parcela <strong>da</strong> repetição que é resultado <strong>da</strong>s individuali<strong>da</strong>des. No Ballet<br />

Clássico ou no Sapateado Irlandês, existe a busca pela padronização dos<br />

corpos a tal ponto que a repetição deve ser ao máximo foca<strong>da</strong> na ação,<br />

no movimento de simples<strong>mente</strong> reproduzir algo. Não deve aparecer o

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