A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
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A <strong><strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>mente</strong> <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e Psicanálise<br />
inespera<strong>da</strong>s em <strong><strong>da</strong>nça</strong>rinos e plateia” (2007, p. 23). O processo de criação<br />
<strong>da</strong> coreógrafa fun<strong>da</strong>menta-se em perguntas em que ca<strong>da</strong> intérprete é<br />
convi<strong>da</strong>do a reviver cenas e sentimentos <strong>da</strong> infância, seus medos, suas<br />
inseguranças, seus desejos; enfim, ca<strong>da</strong> bailarino é convi<strong>da</strong>do a se<br />
apresentar enquanto ser humano.<br />
Lembranças de infância, sonhos, medos, habili<strong>da</strong>des,<br />
amor, como fazer certa coisa, como ensinar outra,<br />
memórias de viagens, frases ouvi<strong>da</strong>s em certa situação,<br />
frases nunca fala<strong>da</strong>s, enfim, um universo de possibili<strong>da</strong>des<br />
onde a ca<strong>da</strong> intérprete é coloca<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de e<br />
importância de se revelar enquanto indivíduo capaz de<br />
imprimir sua visão pessoal à cena (HOGHE, 1989, p. 08).<br />
<strong>Pina</strong> explorava a vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> dos bailarinos transformando-a em<br />
material coreográfico. As questões coloca<strong>da</strong>s por <strong>Bausch</strong> poderiam ser<br />
referentes a experiências sensoriais, cinestésicas, <strong>da</strong>s memórias, <strong>da</strong> mitologia,<br />
<strong>da</strong> religião, do mundo <strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>nça</strong> ou <strong>da</strong> natureza. A intenção era provocar através<br />
de um bombardeio de perguntas, suscitando respostas verbais, gestuais ou<br />
corporais, que seriam transforma<strong>da</strong>s em sequências coreográficas. Segundo<br />
Carla Lima, as perguntas de <strong>Pina</strong> “lançam os bailarinos no oceano <strong>da</strong><br />
subjetivi<strong>da</strong>de, na pesquisa de si mesmos” (2009, p. 02).<br />
O objetivo <strong>da</strong> coreógrafa era tocar proposita<strong>da</strong><strong>mente</strong> no que<br />
amedronta, nas antigas feri<strong>da</strong>s, culpas; nas zonas dolorosas, como<br />
chamava <strong>Bausch</strong>. Segundo <strong>Pina</strong>, “as coisas mais belas estão quase sempre<br />
escondi<strong>da</strong>s. É preciso apanhá-las e cultivá-las e deixá-las crescer bem<br />
devagar” (LIMA, 2009, p. 03).<br />
A bailarina Anne Marie Benati relata como se sentiu no início do<br />
trabalho com <strong>Pina</strong>:<br />
Quando principiei a trabalhar nesse gênero de<br />
improvisações, era tão duro que às vezes julgava<br />
enlouquecer: tinha uma formação clássica, estava<br />
habitua<strong>da</strong> a um treino físico cotidiano. Com <strong>Pina</strong>, pelo<br />
contrário, tínhamos que ficar sentados, a pensar e a<br />
falar, durante muito tempo que me parecia interminável.<br />
Fisica<strong>mente</strong>, era uma loucura, meu corpo não conseguia<br />
aceitar aquela paragem força<strong>da</strong> (BENATI apud LIMA,<br />
2009, p. 03).