A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
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Maria Tereza Furtado Travi<br />
suficiente para a tarefa terapêutica, pois que persistiria a<br />
tendência de os padrões anteriores de funcionamento se<br />
repetirem segundo suas formas habituais (SANDLER,<br />
1976, p. 112-113).<br />
O objetivo <strong>da</strong> elaboração é efetivar a compreensão interna, ou seja,<br />
provocar mu<strong><strong>da</strong>nça</strong>s significativas e duradouras no paciente. O analista tem<br />
o papel de estruturar e articular o material produzido pelo paciente, de forma<br />
a identificar as resistências que se repetem ao longo dos acontecimentos<br />
e que impedem a compreensão interna para gerar mu<strong><strong>da</strong>nça</strong>s. E, mais<br />
importante: fazer com que o paciente identifique essas resistências também<br />
e, assim, consiga adotar um novo comportamento.<br />
Freud costumava considerar a elaboração, tanto a realiza<strong>da</strong><br />
espontanea<strong>mente</strong> como a resultante <strong>da</strong> análise, como um trabalho psíquico.<br />
O trabalho consistia em transformar e transmitir as energias recebi<strong>da</strong>s pelo<br />
aparelho psíquico. A forma de dominar a energia psíquica, para Freud, era<br />
ligando-a a representações. Nesta forma de ver, a elaboração transforma<br />
uma quanti<strong>da</strong>de física de energia psíquica em quali<strong>da</strong>de psíquica. Ou seja,<br />
ligando determinado afeto à outra representação, nova, esse afeto poderá<br />
entrar no psiquismo, adquirindo novos sentidos.<br />
Para ilustrar o processo de elaboração, pensemos em uma menina<br />
que desenvolveu uma competição inconsciente com a irmã mais velha,<br />
que via como preferi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mãe, mais bonita, mais inteligente. Ao entrar<br />
para escola de <strong><strong>da</strong>nça</strong> sentia-se uma perdedora, incapaz de ser admira<strong>da</strong><br />
e de também competir. Ela nunca seria a bailarina principal. A convivência<br />
com colegas e, pela ação paciente <strong>da</strong> professora, começou a destacarse<br />
em algumas coreografias, sentindo-se bonita e ama<strong>da</strong>. Em outras,<br />
tinha uma posição secundária, como outras colegas, que enfrentavam<br />
isso natural<strong>mente</strong>. Aos poucos foi percebendo que poderia ser ama<strong>da</strong> e<br />
admira<strong>da</strong> em algumas situações, sendo a fonte de atenção, como poderia<br />
ficar em uma posição secundária em outras situações e continuar sentindose<br />
queri<strong>da</strong>, fazendo parte do grupo. Essa elaboração transformou uma<br />
energia psíquica causadora de sofrimento, presente na relação com a<br />
irmã, pela ligação em uma nova representação, surgi<strong>da</strong> com “as irmãs” do<br />
grupo de <strong><strong>da</strong>nça</strong>. Tornou-se mais amigável, mais alegre e criativa. Melhorou<br />
a relação com a irmã mais velha e, principal<strong>mente</strong>, consigo mesma.<br />
A elaboração, segundo Sandler (1976, p. 115), pode ocorrer fora <strong>da</strong><br />
sessão analítica. O autor coloca que a elaboração “é o tempo necessário<br />
ao real experimentar e reexperimentar, em termos intelectuais assim como