A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
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Maria Tereza Furtado Travi<br />
Julgo interessante comentar que a Psicanálise procura colocar em<br />
palavras o que “não pode ser dito”, enquanto que a <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro de <strong>Bausch</strong><br />
deseja representar imagens, histórias, sentimentos que transcendem as<br />
palavras. Isto é: a Psicanálise apropria-se do abstrato para verbalizá-lo, e a<br />
<strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro de <strong>Pina</strong> apropria-se <strong>da</strong> palavra para abstraí-la em movimento,<br />
com o objetivo de ampliar o leque de interpretações que podem ser feitas a<br />
respeito. A Psicanálise, ao verbalizar a doença mental, o conflito emocional<br />
busca selecionar as interpretações que mais servem à melhora do paciente.<br />
Segundo Giselle de Brito, na <strong><strong>da</strong>nça</strong>:<br />
O exercício <strong>da</strong> associação livre parece descolar o sujeito<br />
<strong>da</strong> sua lógica de pensamento delibera<strong>da</strong> e intencional,<br />
jogando-o numa possibili<strong>da</strong>de de lógica aleatória, sem<br />
uma ordem defini<strong>da</strong>. As ideias podem fluir sem a tentativa<br />
de se mol<strong>da</strong>r a um raciocínio específico, causando no<br />
sujeito um estranhamento em relação à construção<br />
de sua lógica mental, pois mesmo não possuindo uma<br />
lógica coerente imediata, algum tipo de lógica vai se<br />
estabelecendo pelas conexões de aleatorie<strong>da</strong>de e pela<br />
interpretação que se tem delas (2006, p. 55).<br />
A associação livre traz a repetição de emoções e sentimentos<br />
vividos em situações passa<strong>da</strong>s. Isso ocorre dentro <strong>da</strong> sessão analítica,<br />
bem como no processo criativo bauschiano quando os bailarinos revivem<br />
suas histórias pessoais ao responderem as perguntas <strong>da</strong> coreógrafa.<br />
Dessa forma, penso ser coerente dizer que a repetição é um outro aspecto,<br />
além <strong>da</strong> associação livre, que está presente tanto na Psicanálise quanto<br />
na <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro de <strong>Bausch</strong>.<br />
Segundo Ciane Fernandes (2007, p. 127-128):<br />
Nas obras de <strong>Bausch</strong>, o futuro não repete nem se afasta<br />
do passado, mas segue “trabalhando retroativa<strong>mente</strong><br />
através” dele, transformando-o ao repeti-lo. O conceito de<br />
“trabalhando através” foi inicial<strong>mente</strong> colocado por Sigmund<br />
Freud, em contraste aos de “repetição” e de “lembrança”.<br />
A repetição ocorre quando o paciente reproduz em suas<br />
ações, não em sua memória nem consciência, o passado<br />
reprimido e esquecido. Tal comportamento apenas traz<br />
mais de si mesmo, mantendo os traumas passados e<br />
esquecidos no inconsciente. “Lembrança” é a reprodução<br />
de uma situação passa<strong>da</strong> na memória do paciente, o qual<br />
sabe que se trata de algo distinto de sua vi<strong>da</strong> atual, sem