12.12.2012 Views

A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

53<br />

Maria Tereza Furtado Travi<br />

Julgo interessante comentar que a Psicanálise procura colocar em<br />

palavras o que “não pode ser dito”, enquanto que a <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro de <strong>Bausch</strong><br />

deseja representar imagens, histórias, sentimentos que transcendem as<br />

palavras. Isto é: a Psicanálise apropria-se do abstrato para verbalizá-lo, e a<br />

<strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro de <strong>Pina</strong> apropria-se <strong>da</strong> palavra para abstraí-la em movimento,<br />

com o objetivo de ampliar o leque de interpretações que podem ser feitas a<br />

respeito. A Psicanálise, ao verbalizar a doença mental, o conflito emocional<br />

busca selecionar as interpretações que mais servem à melhora do paciente.<br />

Segundo Giselle de Brito, na <strong><strong>da</strong>nça</strong>:<br />

O exercício <strong>da</strong> associação livre parece descolar o sujeito<br />

<strong>da</strong> sua lógica de pensamento delibera<strong>da</strong> e intencional,<br />

jogando-o numa possibili<strong>da</strong>de de lógica aleatória, sem<br />

uma ordem defini<strong>da</strong>. As ideias podem fluir sem a tentativa<br />

de se mol<strong>da</strong>r a um raciocínio específico, causando no<br />

sujeito um estranhamento em relação à construção<br />

de sua lógica mental, pois mesmo não possuindo uma<br />

lógica coerente imediata, algum tipo de lógica vai se<br />

estabelecendo pelas conexões de aleatorie<strong>da</strong>de e pela<br />

interpretação que se tem delas (2006, p. 55).<br />

A associação livre traz a repetição de emoções e sentimentos<br />

vividos em situações passa<strong>da</strong>s. Isso ocorre dentro <strong>da</strong> sessão analítica,<br />

bem como no processo criativo bauschiano quando os bailarinos revivem<br />

suas histórias pessoais ao responderem as perguntas <strong>da</strong> coreógrafa.<br />

Dessa forma, penso ser coerente dizer que a repetição é um outro aspecto,<br />

além <strong>da</strong> associação livre, que está presente tanto na Psicanálise quanto<br />

na <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro de <strong>Bausch</strong>.<br />

Segundo Ciane Fernandes (2007, p. 127-128):<br />

Nas obras de <strong>Bausch</strong>, o futuro não repete nem se afasta<br />

do passado, mas segue “trabalhando retroativa<strong>mente</strong><br />

através” dele, transformando-o ao repeti-lo. O conceito de<br />

“trabalhando através” foi inicial<strong>mente</strong> colocado por Sigmund<br />

Freud, em contraste aos de “repetição” e de “lembrança”.<br />

A repetição ocorre quando o paciente reproduz em suas<br />

ações, não em sua memória nem consciência, o passado<br />

reprimido e esquecido. Tal comportamento apenas traz<br />

mais de si mesmo, mantendo os traumas passados e<br />

esquecidos no inconsciente. “Lembrança” é a reprodução<br />

de uma situação passa<strong>da</strong> na memória do paciente, o qual<br />

sabe que se trata de algo distinto de sua vi<strong>da</strong> atual, sem

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!