A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
15<br />
Maria Tereza Furtado Travi<br />
A <strong><strong>da</strong>nça</strong> moderna propria<strong>mente</strong> dita se criou e se<br />
desenvolveu, do ponto de vista crítico, rejeitando a<br />
indiferença <strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>nça</strong> clássica pelas paixões profun<strong>da</strong>s<br />
e pela história, rejeitando sua ausência de significação<br />
humana e também o código imutável de movimentos<br />
que a transformara em uma língua morta (GARAUDY,<br />
1980, p. 136).<br />
Com esse objetivo, a Dança Moderna buscou expressar<br />
intensa<strong>mente</strong> as angústias de sua época, criando novos movimentos,<br />
métodos e formas capazes de exprimi-las. Isadora Duncan chegou a se<br />
denominar inimiga do Ballet, acreditando ser a ver<strong>da</strong>deira <strong><strong>da</strong>nça</strong> aquela<br />
que leva à liber<strong>da</strong>de. São marcas registra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Dança Moderna do início<br />
do século XX: pés descalços, cabelos soltos, figurinos largos, que<strong>da</strong>s,<br />
torções do tronco, contrações, inspiração e expiração marca<strong>da</strong>s, braços<br />
soltos; enfim, liber<strong>da</strong>de de movimentação e expressão.<br />
A meu ver, a Dança Moderna representou um primeiro momento de<br />
ruptura com uma forma de <strong><strong>da</strong>nça</strong> estabeleci<strong>da</strong> e reconheci<strong>da</strong> social<strong>mente</strong>.<br />
A partir dela, muitas outras maneiras de entender a <strong><strong>da</strong>nça</strong> foram surgindo<br />
e, consequente<strong>mente</strong>, outros modos de construção do corpo <strong><strong>da</strong>nça</strong>nte. Até<br />
mesmo dentro dos criadores <strong>da</strong> Dança Moderna, existiram distintas vertentes<br />
no que se refere à técnica e ao significado <strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>nça</strong>. Segundo Carla Lima,<br />
“com a <strong><strong>da</strong>nça</strong> moderna, foi o modelo do conhecimento do corpo que mudou:<br />
nem objeto físico nem corpo biológico, mas um corpo energético, feixe de<br />
forças” (2008, p. 89).<br />
E depois <strong>da</strong> Dança Moderna? Se pensarmos, metaforica<strong>mente</strong>, o<br />
Ballet Clássico como uma gaveta que estava emperra<strong>da</strong> e foi aberta à<br />
força, espalhando tudo que havia dentro, podemos pensar que os artistas<br />
<strong>da</strong> Dança Moderna na<strong>da</strong> quiseram aproveitar do que havia caído ao chão.<br />
Desejavam o contrário <strong>da</strong>quilo tudo. Na segun<strong>da</strong> metade do século XX,<br />
alguns coreógrafos começaram a olhar para aqueles elementos ali jogados<br />
e quebrados de outro modo. Por que não reaproveitá-los, misturar coisas<br />
novas, experimentar de forma diferente?<br />
Roger Garaudy afirma que “a <strong><strong>da</strong>nça</strong>, como to<strong>da</strong>s as artes, é uma<br />
tentativa de resposta às questões coloca<strong>da</strong>s por uma época” (1980, p. 136).<br />
Segundo esse autor,<br />
após a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, frente a um novo<br />
desmoronamento dos valores, surge um questionamento