A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

More documents

Recommendations

Info

63 Maria Tereza Furtado Travi fronteira que acaba gerando uma incapacidade de produzir e criar. A doença toma conta da sua vida, impedindo-o de ser e fazer diferente. Acredito que a obra de Pina possua essa estreita relação com a Psicanálise, no que se refere a aspectos semelhantes de métodos e processos, principalmente porque ambas têm a mesma visão de sujeito. E a criatividade de Bausch, a meu ver, vem justamente dessa capacidade da coreógrafa de observar e perceber esse sujeito, com seu pensamento flexível e sua sensibilidade, com o dom de unir coisas que, à primeira vista, não apresentam qualquer conexão entre si. O trabalho de Pina, assim como a Psicanálise, contempla dois eixos fundamentais: o eixo vertical, que é o da subjetividade enquanto fonte de estudo e análise; e o eixo horizontal, que representa o contexto no qual o sujeito localiza-se, relaciona-se. Conforme mencionei anteriormente, a Psicanálise procura colocar em palavras o que “não pode ser dito”, enquanto que a dança-teatro de Bausch deseja representar o que transcende as palavras. Enquanto o processo psicanalítico busca apropriar-se do abstrato para verbalizá-lo, a dança-teatro de Pina apropria-se da palavra para abstraí-la em movimento, com o objetivo de ampliar o leque de interpretações que podem ser feitas a respeito. Já Psicanálise, ao colocar em palavras a doença mental, busca selecionar as interpretações que mais servem à melhora do paciente. A Psicanálise elabora com palavras, e Pina, com estética e dança-teatro. Por fim, julgo importante comentar que Pina, assim como o terapeuta, reconhecia, na tênue linha que divide a loucura e a normalidade, um campo fértil para expressão dos sentimentos. É nesse espaço do entre, do desconhecido, do quase que Pina transita. Porém, a coreógrafa, de forma semelhante ao analista, com sua sensibilidade e autoconhecimento, tinha a capacidade de visitar o terreno dos conflitos psíquicos e sair dele, trazendo a matéria-prima para sua obra. Isto é, Pina tinha a clara ideia de que não poderia se deixar contaminar totalmente pelas emoções, traumas e situações penosas relatadas pelos bailarinos. Ela caminhava no campo que divide e une, simultaneamente, consciente e inconsciente; ligando, sobrepondo, brincando, jogando e ressignificando os dois lados, sempre com o objetivo de transgredir, questionar conceitos socialmente preestabelecidos. Propôs, através da dança, surpreender, trabalhar com o estranhamento e, aí, modificar o olhar. Sem pretensão de esgotar o assunto pesquisado, este trabalho é o primeiro passo para um estudo mais amplo, instigante e rico. É um salto em um palco que começa a se iluminar.
REFERÊNCIAS ALMEIDA, Vera Lucia Paes de. Corpo poético: o movimento expressivo em C. G. Jung e R. Laban. Coleção Amor e Psique. São Paulo: Paulus, 2009. AZEVEDO, Sônia Machado de. O papel do corpo no corpo do ator. São Paulo: Perspectiva, 2009. BARROS, Carlos Alberto Sampaio Martins de. Psiquiatria para leigo. Porto Alegre: Conceito, 2003. BEZERRA, Laise Tavares Padilha e ALMEIDA, Maria da Conceição. Se faço teatro ou dança? Uma complexa cartografia da anamorfose pinabauschiana. In: SEMINÁRIO E MOSTRA NACIONAL DE DANÇA TEATRO, II. Anais... Viçosa, 2010. Disponível em: . Acesso em: 05 jul. 2010. BONFITTO, Matteo. O ator-compositor: as ações físicas como eixo de Stanislávski a Barba. São Paulo: Perspectiva, 2002. BRITO, Giselle Rodrigues de. De água e sal: uma abordagem de processo criativo em dança. Universidade de Brasília, Instituto de Artes. Belo Horizonte: UFMG, 2006. Dissertação (Mestrado em Belas Artes) Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. Disponível em: . Acesso em: 20 jul. 2010. CALDEIRA, Solange. As residências de Pina Bausch. O Percevejo On Line - Periódico do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas PPGAC/UNIRIO. v. 1, n. 1, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: . Acesso em: 20 jul. 2010. ______. Corpo: expressão estética no tanztheater de Pina Bausch. XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/ SP - USP. São Paulo, 2008. Disponível em: . Acesso em: 05 jul. 2010.
Page 2 and 3:
A DANÇA DA MENTE PINA BAUSCH E PSI
Page 4 and 5:
Maria Tereza Furtado Travi A DANÇA
Page 6 and 7:
AGRADECIMENTOS Meus sinceros agrade
Page 8 and 9:
Minha vida começa pelo meio como e
Page 10 and 11:
APRESENTAÇÃO A arte e o inconscie
Page 12 and 13:
11 Maria Tereza Furtado Travi os mo
Page 14 and 15: 1 A DANÇA DE PINA BAUSCH 1.1 A DAN
Page 16 and 17: 15 Maria Tereza Furtado Travi A dan
Page 18 and 19: 17 Maria Tereza Furtado Travi A cen
Page 20 and 21: 19 Maria Tereza Furtado Travi Mary
Page 22 and 23: 21 Maria Tereza Furtado Travi é um
Page 24 and 25: 23 Maria Tereza Furtado Travi plate
Page 26 and 27: 25 Maria Tereza Furtado Travi O int
Page 28 and 29: 27 Segundo Solange Caldeira: Maria
Page 30 and 31: 29 Maria Tereza Furtado Travi Recor
Page 32 and 33: 31 Maria Tereza Furtado Travi A rep
Page 34 and 35: 2 A PSICANÁLISE DE FREUD 2.1 FREUD
Page 36 and 37: 35 Maria Tereza Furtado Travi em qu
Page 38 and 39: 37 Maria Tereza Furtado Travi o ace
Page 40 and 41: 39 Maria Tereza Furtado Travi repet
Page 42 and 43: 41 Maria Tereza Furtado Travi sufic
Page 44 and 45: 43 Maria Tereza Furtado Travi pecul
Page 46 and 47: 45 Maria Tereza Furtado Travi pré-
Page 48 and 49: 47 Maria Tereza Furtado Travi A pes
Page 50 and 51: 4 MENTES BRILHANTES Arte e Psicaná
Page 52 and 53: 51 Maria Tereza Furtado Travi sujei
Page 54 and 55: 53 Maria Tereza Furtado Travi Julgo
Page 56 and 57: 55 Maria Tereza Furtado Travi Elian
Page 58 and 59: 57 Maria Tereza Furtado Travi segun
Page 60 and 61: 59 Maria Tereza Furtado Travi entre
Page 62 and 63: CONSIDERAÇÕES FINAIS O que me fez
Page 66 and 67: 65 Maria Tereza Furtado Travi CALDE
Page 68 and 69: 67 Maria Tereza Furtado Travi OLIVE
show all

A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

Create successful ePaper yourself

Delete template?

Save as template?