A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
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A <strong><strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>mente</strong> <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e Psicanálise<br />
Na arte, o que se pregava era uma volta para a reali<strong>da</strong>de, no sentido<br />
de que o artista deveria retratar a reali<strong>da</strong>de de forma objetiva e ver<strong>da</strong>deira,<br />
na tentativa de uma convergência absoluta entre a representação e a coisa<br />
representa<strong>da</strong>. Já o movimento vanguardista do século XX contesta essa<br />
arte regi<strong>da</strong> pela semelhança. Ao invés do espelhamento, os artistas de<br />
vanguar<strong>da</strong> apresentam imagens distorci<strong>da</strong>s, dilata<strong>da</strong>s, deforma<strong>da</strong>s, não fiéis<br />
aos modelos. Segundo Carla Lima, “o modelo sofre o desgaste, a erosão, o<br />
retalhamento...” (2008, p. 46).<br />
A <strong><strong>da</strong>nça</strong> moderna alemã tem então sua história engaja<strong>da</strong> no<br />
movimento expressionista, sendo a <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro uma <strong>da</strong>s especifici<strong>da</strong>des<br />
dentro <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de deste movimento de vanguar<strong>da</strong>, que <strong>da</strong>rá origem<br />
ao surgimento <strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>nça</strong> pós-moderna. Segundo Sayonara Pereira, o fato<br />
de a Alemanha não possuir uma tradição muito grande no Ballet Clássico,<br />
e também por ter sido palco de vários movimentos<br />
anteriores que refletiam a relação do homem com a<br />
natureza, pode ser uma justificativa para o país ter tido<br />
a abertura para ser o berço do Tanztheater (2009, p. 2).<br />
Surge assim, nos anos 20 e 30, a <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro alemã a partir dos<br />
trabalhos de Rudolf Laban e seus discípulos Mary Wigman e Kurt Jooss.<br />
Laban considerava o <strong><strong>da</strong>nça</strong>rino um ser que pensava, sentia e fazia.<br />
Segundo ele, a <strong><strong>da</strong>nça</strong> deveria ser experiencia<strong>da</strong> e entendi<strong>da</strong>, senti<strong>da</strong><br />
e percebi<strong>da</strong> pelo indivíduo como um ser completo. Com esse objetivo,<br />
Laban desenvolveu seu sistema de movimento, unindo o rigor científico<br />
<strong>da</strong> observação e notação (Laban Notation) com a necessi<strong>da</strong>de expressiva<br />
<strong>da</strong>s ações. Trabalhava com a improvisação, e seus alunos muitas vezes<br />
<strong><strong>da</strong>nça</strong>vam sem música, usavam a voz e recitavam poemas, recorrendo a<br />
movimentos cotidianos ou abstratos. A esse método de trabalho, Laban deu<br />
o nome de Tanz-Ton-Wort (Dança-Tom-Palavra).<br />
Ain<strong>da</strong> nesse vértice, na <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro, existe um novo entendimento<br />
do corpo cênico, fazendo com que os intérpretes e seus orientadores<br />
busquem recursos e métodos não só em outras formas de arte, mas<br />
também em abor<strong>da</strong>gens corporais somáticas. Essa mistura de referências<br />
sempre esteve presente nas artes orientais, por exemplo. Em países como<br />
Japão e Índia, os artistas deveriam, desde pequenos, saber <strong><strong>da</strong>nça</strong>r e<br />
cantar. To<strong>da</strong>via, nos países ocidentais, so<strong>mente</strong> a partir do século XX que<br />
as apropriações entre as artes promoveram novas terminologias e houve<br />
essa contaminação de maneira crescente.