A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
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Maria Tereza Furtado Travi<br />
peculiares. Uma delas é o fenômeno <strong>da</strong> transferência que, segundo<br />
Zimerman, representa:<br />
... o conjunto de to<strong>da</strong>s as formas pelas quais o paciente<br />
vivencia com a pessoa do psicanalista, na experiência<br />
emocional <strong>da</strong> relação analítica, to<strong>da</strong>s as “representações”<br />
que ele tem do seu próprio self, as “relações objetais” que<br />
habitam o seu psiquismo e os conteúdos psíquicos que<br />
estão organizados como “fantasias inconscientes”, com<br />
as respectivas distorções perceptivas, de modo a permitir<br />
“interpretações” do psicanalista, as quais possibilitem a<br />
integração do presente com o passado, o imaginário com<br />
o real, o inconsciente com o consciente” (1999, p. 331).<br />
Na transferência, o paciente coloca no analista sentimentos e<br />
situações traumáticas de forma que possa revivê-las e elaborá-las. Para<br />
Greenson, a característica principal <strong>da</strong> relação transferencial é o fato<br />
<strong>da</strong> “vivência de sentimentos - em relação a uma pessoa - que não está<br />
endereça<strong>da</strong> àquela pessoa e que, na ver<strong>da</strong>de, está à outra” (1981, p.<br />
168). Ou seja, uma determina<strong>da</strong> pessoa no presente, que no caso <strong>da</strong><br />
situação terapêutica é o analista, é reativa<strong>da</strong> como se fosse uma pessoa<br />
do passado, com a qual o paciente possui questões ou conflitos a serem<br />
resolvidos. Greenson coloca ain<strong>da</strong> que “a transferência é uma repetição,<br />
uma nova edição de um relacionamento objetal antigo” (1981, p. 168).<br />
Na relação transferencial, o paciente coloca inconsciente<strong>mente</strong><br />
o analista no lugar de alguma outra pessoa, com o objetivo de reviver<br />
uma determina<strong>da</strong> situação traumática e, a partir <strong>da</strong>í, tentar elaborála.<br />
Para Sandler, esse fenômeno caracteriza-se por “to<strong>da</strong> uma série de<br />
experiências psicológicas” que são revivi<strong>da</strong>s, “não como pertencente ao<br />
passado, mas aplica<strong>da</strong> à pessoa do médico, no momento atual” (1976,<br />
p. 34). Por exemplo, o paciente que possui muita raiva do chefe transfere<br />
esse sentimento para o terapeuta com a finali<strong>da</strong>de de elaborar esse conflito<br />
ao invés de brigar no trabalho.<br />
Um terceiro conceito que constitui um dos pilares <strong>da</strong> Psicanálise é o<br />
de setting. Para que o tratamento psicanalítico ocorra de maneira adequa<strong>da</strong><br />
e eficiente, é necessária a criação de um ambiente favorável, com regras e<br />
combinações claras entre paciente e terapeuta. Para Zimerman, setting pode<br />
ser conceituado como “a soma de todos os procedimentos que organizam,<br />
normatizam e possibilitam o processo psicanalítico” (1999, p. 301). Isso é,<br />
corresponde às atitudes conti<strong>da</strong>s no contrato analítico, bem como àquelas