A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
19<br />
Maria Tereza Furtado Travi<br />
Mary Wigman, aluna de Laban, contribuiu de forma relevante<br />
para o desenvolvimento <strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro. Criou a Ausdrucktanz (<strong><strong>da</strong>nça</strong><br />
expressionista), “no momento em que as artes plásticas viviam o auge<br />
do expressionismo na Alemanha” (CYPRIANO, 2005, p. 23). A <strong><strong>da</strong>nça</strong> de<br />
Wigman representou uma rebelião contra o Ballet Clássico, inspirando-se<br />
em lutas e necessi<strong>da</strong>des humanas universais. A coreógrafa buscava retratar<br />
estados emocionais primitivos, sendo que sua principal característica era<br />
encenar situações que estivessem além <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana. Para tanto,<br />
“refutou o movimento ‘belo’, procurando a ver<strong>da</strong>de do corpo cênico...”<br />
(RODRIGUES, 2008, p. 02).<br />
Kurt Jooss, outro aluno de Laban, compreendia a <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro como<br />
uma ação grupal dramática e, em suas coreografias, desenvolvia temas<br />
sociopolíticos. O treinamento de seus <strong><strong>da</strong>nça</strong>rinos incluía música, educação<br />
<strong>da</strong> fala e <strong><strong>da</strong>nça</strong>, mesclando elementos do Ballet Clássico com as teorias de<br />
Laban de harmonia espacial e quali<strong>da</strong>des de movimento. O público viu o<br />
estilo de Jooss como uma forma “moderniza<strong>da</strong> de ballet”, em que o mundo<br />
era representado de maneira realista. “Mesa Verde” (1932) é considera<strong>da</strong><br />
sua obra-prima, pois o coreógrafo fez uso <strong>da</strong> temática de denúncia social<br />
de forma inovadora, o que o tornou um pioneiro com muitos seguidores. Um<br />
deles foi <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong>.<br />
1.2 UMA OBSERVADORA<br />
Philippine <strong>Bausch</strong> nasceu no dia 27 de julho de 1940 na ci<strong>da</strong>de de<br />
Solingen, sudoeste <strong>da</strong> Alemanha. Na infância, desfrutou de liber<strong>da</strong>de e<br />
independência, pois seus pais viviam ocupados na luta para sobreviver ao<br />
período pós-guerra. “Filha de proprietários de restaurante, desde pequena<br />
<strong>Bausch</strong> estabeleceu uma forma de comunicação com o mundo através<br />
do olhar” (CYPRIANO, 2005, p. 24). Ela observava to<strong>da</strong> aquela gente,<br />
entrando e saindo do restaurante, e imaginava o que poderia se passar<br />
em suas <strong>mente</strong>s. <strong>Pina</strong> era desde cedo uma curiosa que desenvolveu<br />
profundo e intuitivo senso de observação sobre o que existia dentro <strong>da</strong><br />
cabeça <strong>da</strong>s pessoas, sobre suas subjetivi<strong>da</strong>des, sobre a humani<strong>da</strong>de de<br />
maneira geral.<br />
“Entretanto, o olhar de <strong>Bausch</strong> também contempla os arredores;<br />
procura o entorno, a paisagem” (CYPRIANO, 2005, p. 24). Ela buscava<br />
conhecer o contexto em que as coisas aconteciam, procurava ter contato<br />
com tudo que estava à sua volta. Segundo <strong>Bausch</strong>, o lugar onde o ser