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A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

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A <strong><strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>mente</strong> <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e Psicanálise<br />

desestabilizam e transformam suas próprias histórias<br />

enquanto corpos estéticos e sociais.<br />

Penso ser interessante comentar que o Ballet Clássico é um estilo de<br />

<strong><strong>da</strong>nça</strong> que também usa muito a repetição: nos movimentos, no treinamento,<br />

na construção de enredos. Os movimentos são padronizados, o treinamento<br />

tem nomenclatura específica, os exercícios e formatos de aulas são<br />

parecidos, as histórias sempre envolvem o bem, com o príncipe, o bom<br />

moço e a princesa; e o mal, com bruxas, feitiços, mortes. Porém, parece-me<br />

que a repetição, nesse caso, não tem o objetivo de desconstruir padrões<br />

estéticos e sociais, mas sim reforçá-los. E soma-se a isso o fato de que as<br />

experiências passa<strong>da</strong>s dos bailarinos – vivências, sentimentos e desejos –<br />

não fazem parte do processo criativo, bem como do trabalho final.<br />

Entre as razões para a resistência dos bailarinos ao trabalho de<br />

<strong>Bausch</strong>, está justa<strong>mente</strong> este método usado pela coreógrafa, em que há<br />

uma valorização não apenas do desempenho técnico, mas principal<strong>mente</strong><br />

<strong>da</strong>s individuali<strong>da</strong>des e especifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> um.<br />

Segundo Fabio Cypriano (2005, p. 27):<br />

... trabalhar com <strong>Bausch</strong> é um exercício de autoanálise,<br />

algo dificil<strong>mente</strong> compreendido pelos artistas <strong>da</strong> época.<br />

Estes foram treinados em técnicas como o Ballet<br />

Clássico, em que os <strong><strong>da</strong>nça</strong>rinos incorporam personagens,<br />

geral<strong>mente</strong> estereotipados. <strong>Bausch</strong>, ao contrário, expõe no<br />

palco os bailarinos em sua fragili<strong>da</strong>de mais aparente, em<br />

suas próprias personali<strong>da</strong>des, e não como performers que<br />

representam tecnica<strong>mente</strong> um papel.<br />

Além <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de expor seus sentimentos,<br />

<strong>Pina</strong> também provocou um rompimento com o virtuosismo tradicional do<br />

corpo na <strong><strong>da</strong>nça</strong>. Para ela, não era o mensurável o mais importante. Ou<br />

seja, não são quantos giros o bailarino consegue <strong>da</strong>r, ou o quanto ele eleva<br />

a perna ou a altura do seu salto que o torna um intérprete interessante<br />

para os trabalhos de <strong>Bausch</strong>. A coreógrafa valorizava a sensibili<strong>da</strong>de, a<br />

capaci<strong>da</strong>de de doação e coragem de se expor dos bailarinos.<br />

Ain<strong>da</strong> sobre a repetição, cabe comentar breve<strong>mente</strong> o que coloca<br />

Deleuze. Repetir não é, para este autor, generali<strong>da</strong>de; ou seja, fazer tudo<br />

igual. Quando um conceito estabelece uma generali<strong>da</strong>de, ele poderá sofrer<br />

algumas substituições particulares e não deixará de ser generali<strong>da</strong>de.

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