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A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs

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A <strong><strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>mente</strong> <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e Psicanálise<br />

A repetição dos gestos é um caminho para a transformação <strong>da</strong> forma,<br />

para a criação de novas e inespera<strong>da</strong>s sintaxes e para a invenção de novas<br />

estéticas. Mas <strong>Pina</strong> vai além. A coreógrafa faz uso <strong>da</strong> repetição também<br />

como método de inverter os efeitos convencionais atribuídos à mesma. Ou<br />

seja: <strong>Bausch</strong> critica a ideia de que qualquer processo de aprendizagem social<br />

formal implique a necessi<strong>da</strong>de de uma disciplina basea<strong>da</strong> na repetição.<br />

(...) é através <strong>da</strong> disciplina repetitiva que observamos<br />

um disciplinamento dos corpos, e essa disciplinarização<br />

é uma <strong>da</strong>s formas sociais que permeiam e dominam<br />

maneiras pessoais de percepção e expressão. É através<br />

<strong>da</strong> repetição que há um disciplinamento dos corpos para a<br />

utili<strong>da</strong>de e produtivi<strong>da</strong>de (BEZERRA, 2010, p. 06).<br />

No espetáculo Bandoneon (1980), <strong>Pina</strong> abor<strong>da</strong> a ideia <strong>da</strong> “repetição<br />

liga<strong>da</strong> ao erro”, buscando romper com a convenção de que o aprendizado<br />

por repetição sempre deve ocorrer para se atingir a perfeição (BEZERRA,<br />

2010, p. 07). Neste mesmo trabalho, a repetição é relaciona<strong>da</strong> “à dor implícita<br />

na disciplina e no treinamento corporal”, sendo trata<strong>da</strong> como dolorosos<br />

atos de autocontrole e adestramento (BEZERRA, 2010, p. 07). De acordo<br />

com Laise Bezerra, a coreógrafa trata a repetição como algo de natureza<br />

controladora sobre corpos reprimidos (2010, p. 07). Ou seja, para <strong>Pina</strong>, a<br />

repetição deveria levar à criação, à transformação, e não ser a simples e<br />

mecânica reprodução.<br />

Segundo Ciane Fernandes (2007, p. 30), “através <strong>da</strong> repetição, a<br />

<strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro de <strong>Bausch</strong> contém ambos os interesses: o de Wigman, com<br />

a expressão pessoal e psicológica, e o de Jooss, com questões sociais e<br />

políticas”. Nas obras de <strong>Bausch</strong>, o corpo, através <strong>da</strong> repetição de palavras,<br />

gestos e experiências passa<strong>da</strong>s, toma consciência de seu papel enquanto<br />

tópico simbólico e social em constante transformação.<br />

Através <strong>da</strong> repetição, <strong>Bausch</strong> não apenas expõe a<br />

natureza simbólica <strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro, mas também explora<br />

o mapa corporal adquirido através <strong>da</strong> repetição desde a<br />

infância. Seus <strong><strong>da</strong>nça</strong>rinos frequente<strong>mente</strong> repetem em<br />

cena momentos <strong>da</strong>quela fase de suas vi<strong>da</strong>s, mostrando<br />

como incorporaram padrões sociais. Em outras palavras,<br />

eles repetem os momentos nos quais começaram a<br />

repetir movimentos e comportamentos de outras pessoas<br />

(FERNANDES, 2007, p. 30).

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