A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
A dança da mente : Pina Bausch e psicanálise - pucrs
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
11<br />
Maria Tereza Furtado Travi<br />
os movimentos e as imagens que vêm à tona e podem servir para a<br />
composição final. Assim, mais do que nunca, a <strong><strong>da</strong>nça</strong> assume o papel de<br />
representar, de simbolizar o universo do ser humano.<br />
Em 2006, conheci o trabalho <strong>da</strong> coreógrafa alemã <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> e de<br />
sua companhia, a Wuppertal Tanztheater. <strong>Pina</strong> é considera<strong>da</strong> um ícone <strong>da</strong><br />
<strong><strong>da</strong>nça</strong>-teatro, pois criou um processo de composição coreográfica peculiar<br />
e possuía uma incrível capaci<strong>da</strong>de de transformar o individual em universal.<br />
Líder de uma notável corrente artística, <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong> dirigiu o Wuppertal<br />
Tanztheater na Alemanha de 1973 a 2009. A partir do material humano que<br />
possuía (seus atores-bailarinos de trinta ou quarenta anos de i<strong>da</strong>de), <strong>Pina</strong><br />
desenvolveu seus trabalhos desconstruindo pequenos gestos cotidianos,<br />
partindo <strong>da</strong> repetição, transformando em pequenas células de movimento,<br />
depois cenas, gerando uma grande composição-espetáculo.<br />
Acompanhando o trabalho <strong>da</strong> coreógrafa, através de leituras,<br />
vídeos e aulas com bailarinos de sua companhia, comecei a investigar se<br />
existem semelhanças entre o processo criativo bauschiano e o processo<br />
psicanalítico, especial<strong>mente</strong> no que se refere ao acesso ao inconsciente,<br />
através <strong>da</strong> associação livre. Não foquei o processo de análise dos atos<br />
falhos e dos sonhos, formas também considera<strong>da</strong>s portas ao inconsciente.<br />
Fiz terapia durante seis anos. Meus pais trabalham nesta área.<br />
Comecei a perceber uma série de fatores comuns na forma como <strong>Pina</strong> <strong>Bausch</strong><br />
trabalhava com seus bailarinos e o terapeuta com seus pacientes. Porém,<br />
ca<strong>da</strong> um com finali<strong>da</strong>des distintas: <strong>Pina</strong> buscava a arte; o terapeuta, a saúde<br />
emocional, através do autoconhecimento. Como bailarina, identifiquei-me<br />
com a forma de <strong>Pina</strong> ver a <strong><strong>da</strong>nça</strong>, o corpo <strong><strong>da</strong>nça</strong>nte, o sujeito que <strong><strong>da</strong>nça</strong>.<br />
Um estranhamento, um “incômodo” comum que senti na terapia e na <strong><strong>da</strong>nça</strong>teatro<br />
despertaram meu interesse em estu<strong>da</strong>r essas duas áreas. Revelo<br />
também que, talvez, por identificação com estas figuras importantes do meu<br />
desenvolvimento quis buscar afini<strong>da</strong>des entre o que eu amo - a <strong><strong>da</strong>nça</strong> - e<br />
o que meus pais fazem. Valorizando suas ativi<strong>da</strong>des, aproximo-me deles,<br />
usando <strong>Pina</strong> como parceira desse processo.<br />
A Psicanálise, ciência que estu<strong>da</strong> o funcionamento <strong>da</strong> <strong>mente</strong> e dos<br />
problemas mentais, foi cria<strong>da</strong> por Sigmund Freud no início do século XIX.<br />
Freud constatou que os fenômenos mentais não poderiam ser explicados<br />
so<strong>mente</strong> através <strong>da</strong> consciência. Havia cadeias de associações repletas<br />
de lacunas que, pressupôs, poderiam conter lembranças reprimi<strong>da</strong>s. Essa<br />
constatação gerou grandes polêmicas na época, pois a Medicina era<br />
quase que exclusiva<strong>mente</strong> volta<strong>da</strong> aos aspectos orgânicos e biológicos