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edição de 17 de julho de 2017

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STORYTELLER<br />

Cinematic/iStock<br />

Incrível! Fantástico!<br />

Extraordinário!<br />

Para <strong>de</strong>scobrir que nada muda, basta<br />

se dar ao trabalho <strong>de</strong> conhecer a história<br />

LuLa Vieira<br />

Antes <strong>de</strong> mais nada, me permita explicar<br />

que o título <strong>de</strong>ste artigo é <strong>de</strong> um programa<br />

da década <strong>de</strong> 1950 na Rádio Nacional<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, escrito por Almirante (a<br />

mais alta patente do rádio), que registrava<br />

as coisas inacreditáveis que o chamado<br />

mundo mo<strong>de</strong>rno propiciava. Coisas, no linguajar<br />

da época, “do arco da velha”, cujo<br />

significado eu conheço, mas não tenho a<br />

menor i<strong>de</strong>ia da origem, assim como “do<br />

cabo <strong>de</strong> esquadra”, que significa a mesma<br />

coisa: sinistro. Que hoje não significa mais<br />

sinistro, mas quer dizer... poooorra! É que<br />

para preparar um material para uma aula<br />

fui consultar velhos números da revista<br />

Propaganda, lançada em 1956. Encontrei<br />

maravilhas.<br />

Exemplo? Uma coluna assinada por<br />

Francisco da Silva Júnior, que ocupava generosas<br />

páginas duplas com as novida<strong>de</strong>s<br />

do mundo da comunicação. Do primeiro<br />

volume da coleção, isto é, dos primeiros<br />

números da revista e, portanto, da primeira<br />

dúzia <strong>de</strong> artigos do colega Francisco Silva<br />

Júnior, colhi algumas novida<strong>de</strong>s realmente<br />

extraordinárias. No número <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

1957, a coluna registra a existência <strong>de</strong> um<br />

novo profissional nas agências dos Estados<br />

Unidos, que já possuíam um corpo <strong>de</strong><br />

advogados para prevenir contra <strong>de</strong>mandas<br />

<strong>de</strong> clientes a respeito <strong>de</strong> promessas da<br />

propaganda. São os “peritos em questões<br />

raciais”, que, cobrando algo em torno <strong>de</strong><br />

US$ 100 por dia, oferecem conselhos para<br />

que nos anúncios não surjam cenas <strong>de</strong> preconceitos<br />

explícitos, capazes <strong>de</strong> provocar a<br />

ira <strong>de</strong> minorias. Vejam só. Em junho, há a<br />

reprodução <strong>de</strong> um artigo da British Export<br />

Gazette informando que a Minhoca Escocesa<br />

é consi<strong>de</strong>rada a melhor isca para peixes<br />

no mercado americano. Mercado gigantesco,<br />

pois consome 25 milhões <strong>de</strong> minhocas<br />

por ano. O primeiro lote importado <strong>de</strong>ssas<br />

superminhocas escocesas foi <strong>de</strong> 10 milhões<br />

<strong>de</strong> exemplares. Elas me<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 20 cm a 25<br />

cm e chegam vivas nos EUA em recipientes<br />

especiais e com temperatura controlada.<br />

Já era um início do orgânico que neguinho<br />

hoje acha a maior novida<strong>de</strong>.<br />

E veja como as coisas mudam: num levantamento<br />

do mercado americano <strong>de</strong> propaganda,<br />

estimado em US$ 10 bilhões, em<br />

1955 a maior parcela ficou com anúncios<br />

em jornais. Depois as revistas. Em seguida<br />

veio a mala direta, e os veículos especiais<br />

que distribuem cupons. Na rabeira, o rádio<br />

e a mídia externa. Televisão? Nem se falou<br />

nisso. E agora uma novida<strong>de</strong>: Mr. Robert F.<br />

Boomer, da Missão Econômica Americana,<br />

afirma que as empresas <strong>de</strong> seu país só não<br />

investem mais no Brasil porque a situação<br />

econômica é incerta. Como as coisas mudam,<br />

não é? Mu<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> colunista. Domingos<br />

<strong>de</strong> Grossi, outro observador, informa<br />

que o governo do Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

vai proibir uso <strong>de</strong> carteirinhas <strong>de</strong> fósforo<br />

como publicida<strong>de</strong>. A razão é perfeita: estavam<br />

sendo usadas como troco, <strong>de</strong>svirtuando<br />

sua finalida<strong>de</strong> promocional. Pena que<br />

não conste o nome do parlamentar que teve<br />

a i<strong>de</strong>ia da lei, para <strong>de</strong>vido registro.<br />

Voltemos ao Francisco. O cara é muito<br />

bom! Informa que o lançamento da TV em<br />

cores nos Estados Unidos provocou crise<br />

no varejo americano. Depois <strong>de</strong> muita negociação,<br />

os fabricantes estão aceitando a<br />

<strong>de</strong>volução dos estoques <strong>de</strong> aparelhos monocromáticos.<br />

Em março, a revista informa<br />

que a Suécia proibiu a propaganda <strong>de</strong> bebida<br />

alcoólica em cartazes, tabuletas, outdoors,<br />

rádio e televisão. E os governadores<br />

dos estados <strong>de</strong> Nebrasca e Iowa reuniram<br />

os pecuaristas <strong>de</strong> seus territórios para dar<br />

publicida<strong>de</strong> ao consumo <strong>de</strong> carne bovina,<br />

que está <strong>de</strong>caindo nos EUA. Ainda na revista<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1956, uma gran<strong>de</strong> reportagem<br />

sobre a história do Dia das Mães, cuja<br />

origem é americana, <strong>de</strong> 1907, e chegou no<br />

Brasil em 1948.<br />

A matéria serve como um <strong>de</strong>sabafo para<br />

os irmãos Fernando e Rogério Severino,<br />

que, trabalhando na Standard Propaganda,<br />

criadora <strong>de</strong> uma campanha para popularizar<br />

o Dia das Mães no Brasil, foram<br />

acusados <strong>de</strong> estarem fazendo uma grossa<br />

picaretagem, ou seja, transformar em consumo<br />

o mais puro dos amores. Já que falei<br />

em carne, <strong>de</strong>staco um anúncio da Revista<br />

Gran<strong>de</strong> Hotel, dirigido aos frigoríficos do<br />

Brasil, afirmando que ela, a Gran<strong>de</strong> Hotel,<br />

é o melhor veículo para ven<strong>de</strong>r produtos<br />

enlatados. Simplesmente porque é o veículo<br />

que fala às “verda<strong>de</strong>iras donas <strong>de</strong> casa”.<br />

Para <strong>de</strong>scobrir que nada muda, basta se dar<br />

ao trabalho <strong>de</strong> conhecer a história. Novos<br />

tempos... bah!<br />

Lula Vieira é publicitário, diretor da<br />

Mesa Consultoria <strong>de</strong> Comunicação,<br />

radialista, escritor, editor e professor<br />

lulavieira@grupomesa.com.br<br />

46 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> 20<strong>17</strong> - jornal propmark

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