EQUITAÇÃO 143
Revista Equitação - toda a informação sobre mundo equestre
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TREINO<br />
A ARTE<br />
DE BEM SALTAR<br />
Diz um provérbio árabe que “O Paraíso na Terra é sobre o dorso dos cavalos”.<br />
Não poderia estar mais de acordo! Para todos os que comigo concordam, escrevo<br />
este artigo, que divido em duas partes: a primeira sobre a colocação em sela e,<br />
a segunda, sobre a iniciação aos saltos, de cavaleiro e cavalo.<br />
Comecemos então pela colocação<br />
em sela. É evidente que sobre<br />
“Equitação”, muito já se escreveu<br />
e é por isso mesmo que, para escrever<br />
este artigo, me socorri de alguns escritos<br />
de diferentes autores. Sempre que souber<br />
quem são, aqui o direi.<br />
O assunto versado neste meu escrito é dirigido,<br />
mais uma vez, aos que se iniciam nesta<br />
arte do que aos sabichões que, alguns, mesmo<br />
que nunca tenham montado a cavalo, se julgam<br />
conhecedores de todos os segredos da picaria (General<br />
Júlio de Oliveira in “Coisas e Loisas de Equitação”).<br />
Comecei este artigo com um provérbio e, de facto, não<br />
faltam ditos e outros provérbios interessantes e elucidativos,<br />
alguns dos quais cabem bem neste início da<br />
educação do cavaleiro. Assertivas são as declarações<br />
do Coronel Eng.º Vasco Ramires, segundo o qual “um<br />
homem nunca se zanga com um cavalo. Só se zanga<br />
com outro homem.”; ou de Buffon (in História Natural),<br />
para quem “a mais nobre conquista feita pelo homem<br />
é a deste orgulhoso e fogoso animal, que comparte<br />
com ele as fadigas da guerra e a glória dos combates.”<br />
Algumas afirmações que se seguem são da minha autoria,<br />
resultado da maneira como, durante grande parte<br />
da minha vida, montei os meus cavalos, ou aqueles<br />
que me eram distribuídos para trabalhar. Admito que<br />
podem ser contestadas, e reconhecerei os erros que<br />
porventura tenha cometido, se reconhecer que as sugestões<br />
melhoram a minha maneira de montar, e tragam<br />
benefícios para os cavalos.<br />
Entendo que a Equitação é um Hino à descontracção.<br />
Se não houver descontracção por parte do cavaleiro,<br />
mais tarde ou mais cedo vai parar ao chão. É claro que<br />
não é só por falta de descontracção que se vai parar ao<br />
chão. Em Mafra, um dia fui passear para a Tapada com<br />
o Napalm. Vamos sempre tentando pedir algo ao cavalo:<br />
colocação, paragens, recuar, descida do pescoço,<br />
etc. E foi numa extensão, a passo, que o Napalm colaborou<br />
comigo: estendeu o pescoço com a cabeça, até<br />
ao chão, e recuou um passo. Sem nada à frente, caí<br />
que nem um prego e vi o Palácio Nacional de Mafra de<br />
TEXTO<br />
José Miguel Cabedo<br />
fOTOS<br />
Hugo Amorim<br />
cabeça para baixo. O cavalo ficou ali parado<br />
muito admirado com a minha aselhice – a passo.<br />
Já viram as lutas japonesas? Um lutador só<br />
consegue deitar o adversário por terra quando<br />
o apanha contraído e, por isso, tenta agarrá-lo<br />
pelas bandas do quimono. Um homem que<br />
pesa 80kg (por exemplo) não vai ao chão com<br />
facilidade se estiver absolutamente descontraído.<br />
Vamos então estudar a descontracção a cavalo.<br />
O ABC da Equitação já sabem: o cavalo tem quatro<br />
patas, duas orelhas, etc. Partamos desse princípio. Vamos<br />
então passar a DEFS: descontracção, equilíbrio, flexibilidade<br />
e solidez. Olhando para o desenho que apresento<br />
na Fig. 1 (que não é da minha autoria e que não me<br />
lembro de quem é), vamos começar pela cabeça: esta<br />
não deve estar aparafusada ao pescoço, mas também<br />
não deve andar para cima e para baixo, como às vezes<br />
vejo, e que não serve para nada, a não ser que queira dizer<br />
ao cavalo que ele está a ir bem. Será? Deve olhar em<br />
frente e manter o olhar paralelo ao chão.<br />
Quanto aos ombros, além de deverem estar ligeiramente<br />
para trás, têm no seu músculo deltóide de (forma da letra<br />
do alfabeto grego – delta Δ), a grande base da descontracção.<br />
Com os deltóides contraídos, eles levam para<br />
cima e para baixo, os braços e por consequência as mãos,<br />
nos andamentos do cavalo que estão a montar. Isso vai<br />
incomodar fortemente a boca do animal já que as nossas<br />
mãos pertencem à boca do cavalo e não a nós (!). O cavalo<br />
acaba por ficar contraído e aí, decerto, prega com o<br />
cavaleiro no chão, plantando nós, uma figueira (como dizemos<br />
na cavalaria).<br />
As mãos com os dedos cerrados segurando as rédeas,<br />
polegares para cima e afastadas mais ou menos 25cm.<br />
Os rins e costas flexíveis. O assento bem colocado, puxado<br />
à frente na sela só deixa de estar em contacto com a<br />
sela no trote levantado ou no galope para os saltos (como<br />
preconizou o Capitão Frederico Caprilli em 1868 – 1907),<br />
chamada posição à frente. (Fig. 2)<br />
As pernas caem naturalmente e estão em contacto com<br />
as abas da sela, com a parte plana das mesmas. Como<br />
os loros devem estar sempre verticais quando o cavaleiro<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 24 MAGAZINE