nutrição Cuidados a ter com a alimentação do poldro TEXTO | Marta Cardoso (Médica Veterinária) A alimentação do poldro é um factor fundamental para o seu desenvolvimento e para a prevenção de doenças. Só com uma alimentação equilibrada se poderá assegurar que o crescimento e desenvolvimento do poldro correspondem ao potencial genético que o mesmo apresenta. <strong>EQUITAÇÃO</strong> 62 MAGAZINE
A alimentação do poldro inicia-se no útero (alimentação do feto), sendo importante para o mesmo que a égua tenha um regime equilibrado ao longo de toda a gestação, e que as necessidades nutricionais, acrescidas, sobretudo no último trimestre, sejam respeitadas. Após o nascimento, o poldro recém-nascido desempenha actividades que consomem energia. Sendo as suas reservas energéticas endógenas limitadas, é através do colostro (nome designado à primeira secreção mamária da égua) que obterá os nutrientes necessários ao desempenho dessas actividades. O colostro é, assim, o primeiro alimento do poldro e a sua ingestão precoce é essencial do ponto de vista nutricional, imunológico e intestinal (efeito laxante). Até cerca dos três meses de idade, as necessidades nutricionais do poldro lactante são supridas pelo leite materno, cuja composição varia ao longo da lactação, período a partir do qual o poldro deverá complementar a ingestão de leite com pastagem e/ou alimento composto específico. Esta suplementação do poldro lactante, com alimento composto específico fornecido selectivamente ao poldro (através da utilização de comedouros selectivos O c o l o s t r o é o p r i m e i r o aliment o d o p o l d r o e a s u a i n g e s t ã o p r e c o c e é e s s e n c i a l d o p o n t o d e v i s t a n u t r i c i o n a l, i m u n o l ó g i c o e i n t e s t i n a l ou áreas dedicadas à alimentação dos poldros), é designada por creep feeding. Esta prática promove uma habituação ao alimento sólido, promovendo a autonomia alimentar do poldro e reduzindo os efeitos do stress do desmame. De referir apenas que a introdução da prática de creep feeding deverá ser feita a partir das oito semanas de forma gradual (como qualquer processo de introdução alimentar), e que a quantidade de alimento composto específico fornecido deverá variar de acordo com a idade, raça e composição do alimento (por exemplo: para um poldro com idade inferior a quatro meses, a quantidade de alimento composto fornecida deverá variar entre 0.5-1.0 Kg por cada 100 Kg de PV do poldro). De uma forma geral, o desmame traduz-se numa diminuição na taxa de crescimento do poldro. Para a prevenir, deve garantir-se que o poldro ingere uma quantidade de matéria seca suficiente para cumprir com as necessidades nutricionais que apresenta. A monitorização do plano alimentar e do crescimento, nesta fase, deverá ser rigorosa, não sendo desejável também a sobrealimentação. Relativamente aos órfãos, a importância da ingestão de colostro nas primeiras horas de vida mantém-se, podendo, posteriormente, transitar para aleitamento artificial através de biberão ou balde (recorrendo às fórmulas comerciais específicas para poldros) ou tentar-se a amamentação por mãe adoptiva (caso se tenha disponível uma égua que tenha perdido o seu poldro à nascença). Nos poldros órfãos não adoptados, pode disponibilizar-se alimento sólido a partir das duas semanas (recorrendo a um alimento composto específico e a feno de boa qualidade), de forma a complementar ao leite de substituição. O desmame deverá ocorrer entre as 14 e as 16 semanas. Após o desmame, o maneio alimentar do poldro deverá ser igualmente cuidadoso. Entre os doze e os quinze meses de idade, o poldro atingirá cerca de 90% da altura ao garrote, 95% do crescimento ósseo e cerca de 70% do peso em adulto. O restante crescimento ocorrerá posteriormente de forma gradual, verificando-se diferenças significativas no tempo de crescimento remanescente em função da raça. Uma alimentação adequada, que evite períodos de stress, continua a ser essencial, sendo a regularidade do crescimento preferencial a picos de crescimento. As deficiências, excessos ou desequilíbrios nutricionais têm sido associadas a doenças ortopédicas de desenvolvimento (DOD), sendo como tal indesejáveis. Na escolha do alimento, deve privilegiar-se uma componente forrageira de boa qualidade (feno ou pastagem) e um alimento composto específico para poldros, com boa digestibilidade e que privilegie um aporte adequado de lisina, de vitaminas, de macrominerais (como o cálcio e o fósforo) e microminerais (como o zinco, o cobre), necessários para um correcto desenvolvimento ósseo e articular. A reter: • A ingestão precoce de colostro (idealmente primeiras oito horas após o parto) é essencial para o sucesso da transferência de imunidade passiva; • Observar o poldro a mamar com a regularidade adequa da é um indicador de bem-estar e saúde do poldro; • A composição do leite varia ao longo da lactação (sendo a quantidade, o teor de gordura e de proteína superiores na fase inicial da lactação), considerando-se a partir dos três meses insuficiente por si só para suprir as necessidades do poldro; •A prática de creep feeding a partir das oito semanas de idade contribui para a redução do stress do desmame; • Após o desmame, o plano alimentar deverá ser adequado, promovendo um crescimento regular; • Deficiências, excessos ou desequilíbrios nutricionais são indesejáveis, predispondo ao aparecimento de doenças ortopédicas de desenvolvimento. m <strong>EQUITAÇÃO</strong> 63 MAGAZINE