EQUITAÇÃO 143
Revista Equitação - toda a informação sobre mundo equestre
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histórias<br />
Bafejado<br />
um cavalo com uma ferida na quartela<br />
Atarefada, corria de um lado para o outro para acabar as malas! Mesmo escrevendo<br />
um papel com todas as coisas que quero levar, com bastantes dias de antecedência,<br />
acabo sempre por me lembrar de levar outras coisas, também elas necessárias, o que<br />
implica que, para fechar as malas, seja sempre uma correria!<br />
ACarminho já voltou ao CAR, pois já<br />
está a ter aulas presenciais. Eu e o<br />
Francisco resolvemos ir ter com ela a<br />
Lisboa durante três dias para eles poderem<br />
ir às consultas que tinham sido adiadas<br />
durante o estado de emergência. Como estava<br />
em teletrabalho, tive de levar o computador e a<br />
última corrida foi porque me tinha esquecido<br />
dele…<br />
Quando o estava a colocar na mochila o meu telefone<br />
começou a tocar, mas eu já estava tão atrasada<br />
que resolvi não atender, pensei para mim mesma que devolveria<br />
a chamada assim que entrasse no carro e me pusesse<br />
a caminho de Lisboa.<br />
Finalmente com a bagageira cheia para três dias (eu sei,<br />
são só duas noites, mas nós nunca sabemos que temperatura<br />
vai estar, o que vamos fazer, enfim, nunca sabemos<br />
o que levar! Pelo menos eu gosto de viajar bem prevenida)<br />
lá nos pusemos os dois a caminho. Tinha pensado telefonar<br />
e assim como pensei,<br />
TEXTO<br />
rita gorjão clara<br />
médica veterinária<br />
fiz!<br />
Do outro lado do Bluetooth<br />
ouviu-se a voz de<br />
uma amiga minha. A sua<br />
voz agradável, mas com<br />
timbres de ansiedade,<br />
não se demorou muito na<br />
introdução da conversa e<br />
passou imediatamente aos “finalmentes”. O seu cavalo<br />
tinha uma pequena ferida na quartela, dever-se-ia ter aleijado<br />
nalgum sítio, disse ela, mas o que a preocupa mais<br />
era o facto de o cavalo estar cheio de “remelas” amarelas.<br />
Disse-lhe que infelizmente não o poderia ir ver pois ia a<br />
caminho de Lisboa, mas que se ela quisesse poderíamos<br />
fazer uma “teleconsulta”, ela enviava-me as fotografias e<br />
eu logo decidiria se poderia ser medicado por mim à distância,<br />
se poderia esperar por sábado para o ver, ou se teríamos<br />
de chamar outro colega para o puder acudir de<br />
imediato.<br />
Desliguei descansada, que as fotografias chegariam dentro<br />
de pouco tempo, assim que ele voltasse a ter “remelas”<br />
pois estas tinham habilmente desaparecido com a limpeza<br />
exímia realizada pela dona.<br />
As horas foram-se passando e a verdade é que nunca<br />
mais me lembrei do cavalo. No meu subconsciente ela tinha<br />
ficado de enviar as fotografias, por isso, o<br />
meu consciente ficou em stand by à espera das<br />
mesmas, para poder voltar ao assunto.<br />
No sábado, por volta das 16h, o telefone voltou<br />
a tocar! Era ela outra vez. Nunca mais me tinha<br />
lembrado do cavalo!<br />
Com a voz extremamente ansiosa, explicou-me<br />
que os olhos não voltaram a ter remelas, mas<br />
que a ferida pequenina da mão, tinha ficado negra,<br />
grande, e a mão já estava inchada até ao<br />
joelho. Pedi-lhe que me enviasse uma foto por WhatsApp<br />
“ASAP”.<br />
Quando recebi a foto achei a ferida muito feia. Parecia ter<br />
no centro um fundo de necrose bem negra e à volta reacção<br />
inflamatória grave, com sinais de infecção e edema<br />
até ao joelho. Pelo que via, e pelas dores que ele demonstrava<br />
ter, segundo o que a minha amiga dizia, calculei que<br />
tivesse sido uma picada de algum bicho venenoso.<br />
Claro que poderia ser uma “ferida de Verão” ou inclusivamente<br />
arestins, mas para<br />
“...i n c l i n e i-m e l o g o<br />
p a r a u m a p i c a d a d e a l g u m b i c h o<br />
«p e ç o n h e n t o». Se m h e s i t a r,<br />
r e s o l v i m e t e r-m e n o c a r r o e ir<br />
f a z e r-l h e u m a visita.”<br />
ter uma evolução tão rápida<br />
e com um foco de<br />
necrose tão exuberante,<br />
inclinei-me logo para<br />
uma picada de algum bicho<br />
“peçonhento”. Sem<br />
hesitar, resolvi meter-me<br />
no carro e ir fazer-lhe uma<br />
visita. Durante o percurso, observava alegremente o horizonte,<br />
de janela aberta, pois o carro com que tenho substituído<br />
o meu acidentado, não tem ar condicionado. Sentia<br />
a brisa escaldante do meio da tarde, brisa essa que<br />
fazia ondular as searas, ainda numa mistura de tons, que<br />
não tinham ainda atingido o seu tom dourado quando dizem<br />
que estão prontas para a ceifa. No meio delas, e em<br />
grandes quantidades, papoilas vermelhas, lindas, davam<br />
um toque idílico à imagem, mas, de repente, comecei a<br />
sentir o carro a fugir para a direita, tinha um furo!<br />
Chateada, antes de tentar resolver o problema, telefonei<br />
de imediato à minha amiga e disse-lhe que deveria chamar<br />
outro colega, pois não sabia quando estaria despachada<br />
e o caso já tinha quatro dias…<br />
Chateada também ela, e bastante contrariada, lá chamou<br />
um colega meu! Ficou combinado que me telefonaria<br />
para irmos falando, mas, mais uma vez, o tempo foi pas-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 70 MAGAZINE