Raides Riscos de intoxicação por plantas em cavalos de endurance TEXTO Mónica Mira Pastagem altamente contaminada com soagem (Echium plantagineum) no Alentejo esta Primavera <strong>EQUITAÇÃO</strong> 66 MAGAZINE
PUB Ao contrário de outras modalidades em que os cavalos permanecem estabulados a maior parte do tempo, na resistência equestre está convencionado que os cavalos devem permanecer no exterior. Os paddocks e, em particular, as cercas em que são colocados, têm na sua maioria algum tipo de pastagem espontânea, na qual podem existir plantas tóxicas. Por outro lado, as modificações climáticas, o aumento de infestantes nas pastagens e ausência de variedades forrageiras para cavalos, particularmente em regiões desfavorecidas em termos meteorológicos, como Portugal, torna difícil conseguir feno livre de plantas tóxicas. Estando a modalidade situada sobretudo na região entre Alcochete, Sines e Elvas, com grande representatividade na região de Évora, com este artigo pretendemos alertar para a toxicidade de determinadas plantas que, por desconhecimento geral, são frequentemente negligenciadas nas pastagens. Particularmente preocupantes são a soagem (Echium plantagineum), na Primavera, e a tasneirinha, ou senécio (Senecium vulgaris e Senecium jacobea), no final do Verão e Outono. Menos comum também, o tornassol (Heliotropium europeum). Tóxicas tanto para equídeos como para ruminantes, estas plantas contêm em comum componentes alcalóides pirrozilídicos que causam dano hepático. Uma intoxicação silenciosa Estas plantas contêm substâncias tóxicas que causam uma intoxicação do tipo cumulativo e não agudo. São intoxicações não de carácter fulminante, mas sim insidioso, passando por isso despercebidas. O que isto significa é que o tecido hepático vai sendo substituído por áreas de fibrose, ou seja, áreas que perdem a sua capacidade funcional. No dia-a-dia, esta perda de funcionalidade não tem qualquer manifestação clínica ou, se existir, será inespecífica, como por exemplo, perda de condição corporal, na presença de apetite ou episódios de cólica ligeira recorrente. Só quando há cerca de 80% de tecido hepático afectado é que a sintomatologia se torna mais óbvia, com perda de peso associada a anorexia, icterícia e sintomas neurológicos associados à presença de amónia no sangue. Normalmente transformada em ureia para ser eliminada pelos rins, a amónia atravessa a barreira hemato-encefálica, sendo particularmente tóxica para o cérebro, causando apatia profunda com headpressing (encosto da cabeça a uma parede ou outro elemento sólido), episódios de agressividade e por fim recumbência. Papel do fígado no esforço físico e consequências para os cavalos de competição Órgão indispensável para a vida, com múltiplas funções, o fígado fica especialmente sobrecarregado no esforço físico <strong>EQUITAÇÃO</strong> 67 MAGAZINE