You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
última página<br />
Alê Oliveira<br />
O que você ouve,<br />
quando ouve as i<strong>de</strong>ias?<br />
Flavio Waiteman<br />
é CCO-foun<strong>de</strong>r da Tech and Soul<br />
flavio.waiteman@techandsoul.com.br<br />
Flavio Waiteman<br />
Murakami, em entrevista ao The New York Times,<br />
afirma que, se não fosse a música, ele não seria<br />
o escritor que é. Em seus livros, fica claro essa<br />
relação yin e yang (música e escrita) e por que só<br />
iniciou a carreira <strong>de</strong> escritor <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter, por muitos<br />
anos, um bar <strong>de</strong> jazz.<br />
Particularmente acredito que a mente precisa entrar<br />
numa certa frequência para que se sinta liberada em<br />
assumir outros papéis e pontos <strong>de</strong> vista criativos. Para<br />
criar, geralmente, utilizo os mantras eletrônicos do Chemical<br />
Brothers, Fat Boy Slim, Kraftwerk ou trilhas sonoras<br />
eletrônicas <strong>de</strong> alguns filmes (Sound Tracks) como ‘Bla<strong>de</strong><br />
Runner’, por Vangelis, ou ‘Interstellar’, com Hans Zimmer.<br />
Até mesmo a atmosfera dos diálogos vinda diretamente<br />
dos filmes e a emoção da interpretação dos<br />
atores leva a gente para longe. Antes <strong>de</strong> apresentações<br />
muito importantes eu ouço ‘Tragedy’, dos Bee Gees. Ou<br />
algo dramático e alto.<br />
Quando estou completamente perdido na busca <strong>de</strong><br />
resolver algum problema, tentando encontrar um caminho,<br />
cercado <strong>de</strong> diversas encruzilhadas, ouço ‘Also Sprach<br />
Zarathustra’, com arranjo do Eumir Deodato. Os discos<br />
que ele gravou lá fora são geniais.<br />
Nina Simone, quando perco para a distração e naquele<br />
dia que dá tudo errado: “Ain’t got no I got life”.<br />
Quando quero pensar ao contrário do que ando pensando,<br />
para saber se tem alguma i<strong>de</strong>ia escondida ou<br />
uma estratégia melhor esperando ser <strong>de</strong>scoberta, ouço<br />
a banda Morphine, ‘Cure for pain’. Mark Sandman, baixista<br />
americano da banda, toca apenas com 2 cordas e sem<br />
técnica <strong>de</strong> baixo, mais parece uma guitarra Havaiana.<br />
Isso fica ótimo junto com baterista e saxofonista e com<br />
a voz <strong>de</strong> barítono bêbado.<br />
Para dirigir rumo ao interior <strong>de</strong> São Paulo, ouço anos<br />
1970, soul music. Um pouco <strong>de</strong> pop anos 1980: Tears for<br />
Fears, Depeche Mo<strong>de</strong>, New Or<strong>de</strong>r e, pra quebrar um pouco<br />
o ritmo, o disco mais recente dos Tear for Fears, ‘Tipping<br />
Point’, que sem dúvida tem algo que faz falta hoje<br />
em dia, composições originais atuais.<br />
Em alguns dias, <strong>de</strong>pois das 17h, ligo meu amplificador<br />
Gradiente Mo<strong>de</strong>lo Pro 2.000 MK2, antiquíssimo,<br />
com caixas JBL Studio, e ouço algo na categoria<br />
<strong>de</strong> memória afetiva <strong>de</strong> uma época que os sonhos<br />
eram maiores do que as possibilida<strong>de</strong>s. A afetivida<strong>de</strong><br />
está no fato <strong>de</strong>, hoje, po<strong>de</strong>rmos olhar com complacência<br />
para trás e enten<strong>de</strong>r aquela versão romântica <strong>de</strong><br />
nós próprios.<br />
Em alguns domingos, antes do almoço, ouço samba.<br />
Bezerra da Silva cantando que o malandro é malandro e<br />
Mané é Mané, contando a história do Defunto caguete,<br />
saudando as favelas. Chico Buarque, com ‘Geni’, ‘Construção’.<br />
Em dias nublados e frios, provoco com Dalto, Peninha,<br />
Bethânia e Tim Maia, com ‘Leia o livro’ e ‘Universo<br />
em <strong>de</strong>sencanto’.<br />
Sábados à noite? Celso Fonseca, com ‘Slow Bossa<br />
Nova’, Hanoi Hanoi, Fausto Fawcett, e qualquer música<br />
<strong>de</strong> Hyldon e qualquer disco com arranjos <strong>de</strong> Lincoln Olivetti<br />
e Liminha.<br />
Passeando com os Moses e Toy no sábado e domingo<br />
<strong>de</strong> manhã, mudo a programação para um<br />
podcast ‘Its only fucking advertising (IOF)’, com Aaron<br />
Starkmann, CCO da Rethink do Canadá e ótimo entrevistador<br />
da nossa indústria com convidados <strong>de</strong> muito<br />
conteúdo.<br />
Para correr não ouço nada, tentando me conectar<br />
com a respiração, com o momento e acabo pensando<br />
que uma playlist assim <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar os algoritmos completamente<br />
confusos. Mas, qual a sua playlist?<br />
“Acredito que a<br />
mente precisa<br />
entrar numa certa<br />
frequência para que<br />
se sinta liberada”<br />
34 <strong>29</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2024</strong> - jornal propmark