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Colecão 2020

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Outras LeituraS

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O coração é o símbolo do amor e os puros de coração verão

a Deus. “Ubi caritas et amor Deus ibi est”, reza um popular canto

paralitúrgico cristão.

A mística de todos os tempos e de todos os continentes nos

deixou pérolas sobre o amor. “Eu sigo a religião do amor”, disse

o grande místico murciano do século XII-XIII [Ibn’Arabi],

acrescentando que, “onde quer que vão os camelos do Amor,

aqui estão minha religião e minha fé”. O coração (qalb) é uma

noção fundamental do sufismo.

O coração, símbolo quase universal do amor, é um órgão

humano. Com isso se nos afirma a unidade do amor. “É com

o coração que se conhece a verdade”, diz outro texto sagrado

(BU III, 9, 23).

O amor é um, já dissemos. Esta unidade é uma unidade

não dualista. Não há dois amores, não podem separar-se, embora

devam distinguir-se. Quando a distinção se converte em

cisão, esta ruptura é o pecado.

Dificilmente se pode gozar da experiência do amor a Deus

se se desconhece o amor humano. Dificilmente se pode perseverar

no amor humano se não se descobre nele uma alma

divina, por assim dizê-lo. O verdadeiro amor é algo mais do

que uma projeção voluntarista ou um mero sentimentalismo.

Não se trata de “superar” o amor às criaturas, abandoná-las e

remontar-se ao amor divino. Deus não habita só nos montes

do nada; também tem sua morada nos “vales frondosos” dos

seres humanos. É o mesmo amor humano em que reside a Divindade.

Um amor divino que não se encarne no amor ao próximo,

para citar a frase evangélica, é pura mentira (1 Jo 4, 20).

Raimon Panikkar (1918-2010). Ícones do mistério: A experiência de Deus. São

Paulo: Paulinas, 2007. p. 162-163.

c

116 O Rosto Amado de Deus

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