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Outras LeituraS
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O coração é o símbolo do amor e os puros de coração verão
a Deus. “Ubi caritas et amor Deus ibi est”, reza um popular canto
paralitúrgico cristão.
A mística de todos os tempos e de todos os continentes nos
deixou pérolas sobre o amor. “Eu sigo a religião do amor”, disse
o grande místico murciano do século XII-XIII [Ibn’Arabi],
acrescentando que, “onde quer que vão os camelos do Amor,
aqui estão minha religião e minha fé”. O coração (qalb) é uma
noção fundamental do sufismo.
O coração, símbolo quase universal do amor, é um órgão
humano. Com isso se nos afirma a unidade do amor. “É com
o coração que se conhece a verdade”, diz outro texto sagrado
(BU III, 9, 23).
O amor é um, já dissemos. Esta unidade é uma unidade
não dualista. Não há dois amores, não podem separar-se, embora
devam distinguir-se. Quando a distinção se converte em
cisão, esta ruptura é o pecado.
Dificilmente se pode gozar da experiência do amor a Deus
se se desconhece o amor humano. Dificilmente se pode perseverar
no amor humano se não se descobre nele uma alma
divina, por assim dizê-lo. O verdadeiro amor é algo mais do
que uma projeção voluntarista ou um mero sentimentalismo.
Não se trata de “superar” o amor às criaturas, abandoná-las e
remontar-se ao amor divino. Deus não habita só nos montes
do nada; também tem sua morada nos “vales frondosos” dos
seres humanos. É o mesmo amor humano em que reside a Divindade.
Um amor divino que não se encarne no amor ao próximo,
para citar a frase evangélica, é pura mentira (1 Jo 4, 20).
Raimon Panikkar (1918-2010). Ícones do mistério: A experiência de Deus. São
Paulo: Paulinas, 2007. p. 162-163.
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116 O Rosto Amado de Deus