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Colecão 2020

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O RostO AmadO de Deus

Nestes tempos de um cristianismo comercializado em que as

festas litúrgicas são reduzidas à “agregação de valor de mercado”,

perdemos o significado da razão de ser tanto do Natal

como da Páscoa da Ressurreição. Nossas igrejas barateiam

o Mistério por meio de slogans de caráter tanto duvidoso quanto de indigência

teológica. Vivemos numa sociedade de um forte individualismo em

que o consumismo foi eleito como a razão de ser: Tenho, logo existo! São

considerados descartáveis para o mercado os que não dominam as novas

formas de comunicação eletrônica que fazem perder o sentido do tocar e

do sentir. A comunicação via Internet constitui uma forma virtual de relação,

paralela ao mundo real, que, muitas vezes, implica numa forte alienação

do contato físico e tátil. A cultura da suspeição marcante nos dias presentes

percebe o próximo como um perigo do qual devemos nos defender.

Acabamos por acreditar que os outros são obstáculos e quase inimigos.

Vale mais o preconizado por Sartre: “O inferno são os outros!”

Avesso a essa situação, o papa Francisco apela para nós recriarmos a

cultura do encontro. Nela o abraço é o sinal de uma profecia, pois brota

do coração e da convivência. Pelo abraço terno e amoroso, descobrimos

o existir como um dom e podemos testemunhar que o outro não é o “inferno”.

O abraço reconduz ao encontro primário, origem da nossa própria

identidade relacional, pois o contato corpóreo com os outros é a fonte de

bem-aventuranças, de alegria, de segurança, de calor e de predisposição a

experiências sempre novas. Somente no encontro com o outro é que podemos

romper o fechamento sobre nós mesmos que nos faz negar as relações

pessoais e nos conduz à morte. Todo narcisismo é necrofilia, e a relação

altruísta, pelo contrário, é biofilia. Todo ser humano é um ser-do-abraço.

O coração que ama é o oposto do coração contraído e encurtado, aquele

incapaz do dom e da acolhida, absorvido pelas relações parasitárias, pleno

de ressentimento e emotivamente frio e avarento. Abrir o coração a Deus é

permitir ser abraçado por Ele, e abraçá-Lo com todo o nosso ser torna-nos

capazes de abraçar todo irmão e irmã e sermos, ao mesmo tempo, abraçados

por eles num real encontro de reciprocidade amorosa.

Somente graças a esse encontro – ou reencontro – com o amor

de Deus, que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados

da nossa consciência isolada e da autorreferencialidade.

16 O Rosto Amado de Deus

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