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Natal
Dia 27
Deus, no seu Cristo, mudou de condição. Viveu a condição humana,
para que todos os homens entrem na Sua própria condição de Deus. Cristo,
que é de condição divina, quis que O tomassem por ninguém. Cristo,
que é de condição divina, não guardou o seu lugar. Por quê? Pura e simplesmente
porque nos ama. E como é possível amar sem se ser ambicioso
para aqueles que se ama?
A amizade não pode acomodar-se às distâncias, quando elas existem.
A amizade tende, logicamente, a reduzir as distâncias. Por quê? Porque
mente aquele que ama sem procurar viver com aqueles que pretende amar.
E assim, porque Deus nos ama, não por palavras, mas em ato e em verdade,
vem viver em comunidade com os homens. Vence a distância que O
separa de nós. Torna-se homem. Torna-se homem para que nos tornemos
deuses. Compromete-se conosco. Por quê? Porque amar é comprometer-se.
Não sei como acontece convosco. Mas, comigo, creio ter encontrado um
amigo a partir do momento em que ele se comprometeu comigo; e, na verdade,
não sou amigo de outrem senão quando me comprometo com ele.
Deus tornou-se dependente dos homens, porque não é possível amar sem
livremente depender de quem se ama.
E eis que devemos adorar, meus irmãos, essa maravilha: Deus tornou-
-se vulnerável porque o amor implica sempre uma certa mágoa. É normalíssimo
os homens procurarem Deus. Não há aqui motivo algum de espanto.
Mas só conhecemos o intempestivo, o extraordinário, a Boa-Nova,
quando descobrimos que Deus procurou os homens.
Como, pouco mais ou menos, o disse Péguy, não é o mundo pagão que
depende do mundo cristão, mas é o cristão que depende do pagão; e acrescentou:
não são os homens que dependem de Deus, mas Deus que depende
dos homens. Porque não é o ser amado que depende do ser amante, mas o
ser amante é que depende do ser amado.
Jean Cardonnel, o.p. (1921-2009). O evangelho e o mundo novo. Porto: Livraria Figueirinhas, 1966.
p. 46-47.
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70 O Rosto Amado de Deus