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Colecão 2020

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Natal

Dia 31

Jesus realizou uma verdadeira revolução nos introduzindo na intimidade

de um Deus que é interior a nós mesmos. É evidente que, se Deus está

em nós, ele passeia pelas ruas de Lausanne, como pelas ruas de Jerusalém

ou de Nazaré, na medida em que nós façamos o mesmo.

Um Deus interior, aquele da experiência agostiniana, um Deus interior

é um Deus que não desce de um céu imaginário: o céu, ele mesmo está dentro

de nós, e se Deus é interior, se ele é mais íntimo a nós do que nós mesmos,

nós não podemos encontrá-lo a não ser num universo interpessoal.

E eis, justamente, o que importa essencialmente: Jesus nos ensinou ou,

ao menos, quis nos ensinar a situar Deus num universo interpessoal, isto

é, um universo onde tanto se o conhece como se o ama. Este universo, é o

universo de nossa humanidade, é o universo de nossas ternuras e de nossos

amores, o único universo respirável, o único no qual nós podemos nos

situar, se nós não quisermos renunciar à nossa dignidade.

O que nós procuramos uns nos outros? O que nós aspiramos a encontrar

por detrás do rosto dos outros senão, justamente, este espaço de luz e de

amor onde nós podemos nos sentir inteiramente livres, em comunhão com a

intimidade d’outrem, sem violar sua clausura e sem que ele viole a nossa? Há

aí um tipo de troca onde o que conta unicamente é a luz da presença, esta luz

da presença que se alcança fazendo-se a si mesmo presente ao outro.

“Não procures Deus sobre as montanhas, não procures Deus sobre Garizim

ou sobre a colina de Sion, procura Deus em ti como uma fonte que

jorra em vida eterna”. Se Deus se situa neste universo interpessoal, ele surge

tão imediatamente que não pode se manifestar a não ser sob a forma da

encarnação. Isto quer dizer mais exatamente: uma vez que ele é interior,

uma vez que ele é pura intimidade, uma vez que ele está no mais dentro

de nós, uma vez que ele não está fora, uma vez que ele é essencialmente,

eminentemente pessoal, ele não pode, pois, se manifestar a nós a não ser

na medida em que nós o acolhemos e o deixamos transparecer em nós.

Maurice Zundel (1897-1975). Au miroir de l’évangile. Québec: Anne Sigier, 2007. p. 27-28.

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78 O Rosto Amado de Deus

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