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O RostO AmadO de Deus
como ressuscitar: o hoje a ser vivido na dimensão do amanhã. Nosso Deus
não necessita de mediações religiosas, instituições sacramentalizadas que
podem trazer falsas seguranças e causar a evasão da nossa responsabilidade
humana. Ele oferece, de graça, para todos o seu amor e a sua compaixão.
No entanto, o mundo terrificante do sagrado conduziu ao medo concreto
da Cruz. Seguindo as suas pegadas, saberemos que o sinal do profeta, que
devemos ser, não é nenhum triunfo vitorioso, nem milagres e nem curas.
O sinal profético é a Cruz. Na sua procura amorosa do homem, o ser de Deus
se torna história. Jesus não é um revelador de Deus entre outros e nem mesmo
o último e perfeito revelador. Ele é em pessoa revelação de Deus, presença de
Deus no mundo – aqui e agora. O amor de Deus é a capacidade de renunciar a
si até morrer por isso e de dar gratuitamente, sem esperar nada em troca.
O amor apaixonado de Deus pelo seu povo – pelo ser humano
– é, ao mesmo tempo, um amor que perdoa. E é tão grande
que chega a virar Deus contra si próprio, o seu amor contra a
sua justiça. Nisso, o cristão já vê esboçar-se, veladamente, o
mistério da cruz: Deus ama tanto o ser humano que, tendo-se
feito, ele próprio, homem, segue-o até a morte e, desse modo,
reconcilia justiça e amor. 4
Deus se preparou para esvaziar-se de amor em seu Filho Amado, assim
como Jesus, quando morre, não perde a vida, mas se abandona e confia a
Deus o que, definitivamente, havia recebido Dele como um dom irrevogável.
O significado último da nossa corporeidade se desvela no evento da
cruz em que, como uma espiral aberta entre as rochas, somos orientados
ao mistério inefável do abraço de amor subsistente no Deus – Trindade –
de Amor, raiz e modelo arquétipo de todo abraço. 5
É o abraço que faz convergir, num diálogo de entranhas, Maria e Isabel
e seus filhos Jesus e João. O profeta Simeão retém num abraço o Recém-
-Nascido e proclama: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa
de quedas e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um si-
4 BENTO XVI. Deus Caritas Est. 9. ed. São Paulo: Paulinas, 2008. p. 21-22.
5 ROCHETTA, Carlo. Abbracciami. Bologna: Edizioni Dejoniane Bologna, 2013.
20 O Rosto Amado de Deus