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O RostO AmadO de Deus
do Amor de Deus: “A razão pela qual amamos Deus, é o próprio Deus; e a
medida deste amor é a de amar sem medidas”.
OSCULETUR ME OSCULO ORIS SUI (Ct 1, 1)
O mesmo São Bernardo de Claraval, nos seus sermões sobre o Cântico dos
Cânticos, concebe a encarnação como um beijo de amor: “Deus é aquele que
beija, o homem é aquele que é beijado. O beijo é a união de um com o outro e
que faz dos dois uma única e mesma pessoa, que é ao mesmo tempo Deus e
Homem”. Este beijo físico em Jesus, o Amado, é a própria união hipostática:
a união pessoal da humanidade de Jesus com a pessoa do Filho de Deus. Este
beijo une a carne ao Verbo e o homem a Deus. A palavra hebraica que designa
o ato de beijar é nashak e invoca o fato de respirar junto, de sentir o mesmo
odor, de se abraçar estreitamente num mesmo sentido.
Orígenes, nas suas homilias sobre o Cântico dos Cânticos, dizia: “Até
quando meu Bem-Amado me enviará seus beijos por Moisés, me enviará
seus beijos por seus profetas? São aos próprios lábios do meu Amado que
eu desejo me unir, que Ele mesmo venha, que Ele mesmo desça”. 7 Acabado
o tempo dos profetas, que venha, finalmente, o Messias! Acabado o tempo
dos mensageiros, dos enviados, que venha, enfim, o próprio Esposo.
No Natal, o beijo de Deus vem a nós para nos revelar que Deus é Amor e
um amor que tem necessidade de alguém para receber o seu beijo de amor.
O primeiro testemunho do êxito de Deus no seu desígnio de amor é o Filho;
e o beijo, como afirmam os Padres da Igreja, é o Espírito Santo. Fomos
criados pelo beijo de Deus. O Espírito Santo é o beijo que a boca do Filho
Amado imprime para sempre em nossos corações: “O amor de Deus se infunde
em nosso coração pelo dom do Espírito Santo” (Rm 5, 5). Os Padres
da Igreja do século IV, Cirilo de Jerusalém e Ambrósio, na sua catequese
pascal, ensinavam que é essencialmente pela eucaristia que se realiza o
voto ardente do Esposo: “Quando o corpo do Cristo tocar teus lábios, então
se realizará para ti o desejado pelo Esposo ‘que me beije os beijos da tua
boca’”. A unidade do amor no Espírito é então consumada. 8
7 ORIGÈNE. Homélies sur le Cantique des Cantiques. Paris: Les Éditions du Cerf, 2007.
8 ARMINJON, Blaise. La Cantate de L’Amour. Paris: Desclée de Brouwer, 1983.
22 O Rosto Amado de Deus