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Natal
Dia 35
e pagãos, representam todos os não-judeus que pela graça de Deus têm o mesmo direito
à herança de Israel. Herodes exerce um poder de exclusão. Os magos procuram o rei dos
judeus e suscitam, por esta busca, um conflito mortal e impiedoso com o rei Herodes, que
se apresentava como o rei do povo consagrado a Deus e o rei herdeiro de Davi. Herodes é
um usurpador, assassino e mentiroso, e o seu poder real é mantido pelo massacre e pelo
derramamento de sangue dos seus opositores. O reino de Herodes representa todos os
reinos deste mundo mantidos pelos assassinatos, pela barbárie e pela dissimulação: “Ide
e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-
-me, para que também eu vá adorá-lo”. O reino do Cristo não significa que o Menino, um
dia, sucederá a Herodes, como ele temia, e nós, muitas vezes desejamos. Jesus, o Cristo,
não vem limitar para nós a compreensão de Deus, mas alargá-la ao infinito. O combate
que O conduz à morte na Cruz é um maravilhoso combate pela liberdade humana: “O sábado
foi feito para o homem, não o homem para o sábado” (Mc 2, 27). O sinal de uma igreja
autêntica é o testemunho de que a única maneira de ser cristão, no Espírito de Jesus, é não
ter fronteiras. O encontro com a manifestação de Deus nas outras religiões é um convite
para iluminar a nossa ignorância, corrigir os nossos defeitos e descobrir as novas riquezas
da Epifania de Deus que a estreiteza das burocracias religiosas não permite vislumbrar.
É hora da acolhida e da expansão e precisamos romper, definitivamente, as certezas
defendidas por cada tradição religiosa de que a sua religião está no centro do mundo e que
as outras gravitam em sua periferia. Jesus revela que, nos espíritos medíocres, e por isto
mesmo autoritários, a pretensa universalidade só se efetiva com a exclusão dos diferentes
de nós. O diálogo supõe um mistério de unidade: uma única família humana, um desígnio
divino de salvação e a presença ativa do Espírito Santo na vida religiosa da humanidade.
Jesus, o Cristo, testemunha que o Pai que se revela a nós, pelo Espírito, não é e não será
jamais alvo de nossa tentativa de posse e, muito menos, um meio de salvação exclusivo,
pois o seu amor e salvação são destinados a todos. Não podemos nos tornar os Herodes de
nossos irmãos e nos apresentarmos diante de Deus com as nossas mãos sujas do sangue
de inocentes. Neste domingo, conduzidos pelo Espírito de Jesus, sejamos como os magos
que viram a estrela; uma estrela que brilhou nos seus corações e que os conduziu ao encontro
inefável com o Coração Divino que os esperava. Um coração que sempre nos fará
trilhar caminhos de liberdade e de amor e nos afastará dos caminhos enganosos dos poderosos
que se mantêm pelo medo, pelo terror e pela barbárie: “Avisados em sonho para
não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho”.
86 O Rosto Amado de Deus
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