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abadia 9 . O que não impediu o desaparecimento de inúmeros volumes que, por vezes,
eram até mesmo vendidos. Alto preço pago pela biblioteca, por ter sido aberta, não só
aos estudantes da ordem, mas também aos estudantes e mestres de outras escolas. A
abertura à população em geral foi, muitas vezes, condição exigida pelos doadores de
boa parte do acervo. Na tentativa de impedir roubos e desvios, ameaças de excomunhão
e maldições eram escritas nos livros, com intuito de atemorizar os leitores, como por
exemplo: “Este livro é de Saint-Victor de Paris: quem quer que o furte, ou extravie, ou
apague este título, seja excomungado, amém.” 10 (DELISLE, 1874, p. 227).
Além das doações, a biblioteca era também, em grande parte, alimentada pelo
scriptorium, como todos os grandes estabelecimentos religiosos daquela época. O
scriptorium da Abbaye de Saint-Victor era conhecido como de grande erudição e as
funções de seus copistas ultrapassavam aquelas de simples calígrafos. A esse respeito
ressaltou Ouy (1000, p. 27): “Na Idade Média tardia, os copistas victorinos não eram,
em geral, somente hábeis calígrafos, mas eles parecem ter sido, em sua maioria,
inteligentes e cultos”. 11
A importância do scriptorium da Abbaye de Saint-Victor, porém, vai muito além
da presença de seus copistas cultos. Ali figurava um grupo de autores victorinos tão
originais e eruditos que, por suas atividades, eram então considerados como “les grands
victorins”. Dentre os nomes mais célebres estão aqueles de Godefroid de Saint-Victor,
Gautier de Saint-Victor, o cronista Jean de Saint-Victor, Guillaume de Saint-Lô, autor
de sermões, e Henri le Boulangier 12 .
Apesar de todas as perdas, no final do século XV a Abbaye de Saint-Victor de
Paris possuía um acervo impressionante, devido à chegada dos livros impressos, que
vieram se juntar aos antigos livros. Para abrigar esse acervo crescente, foi construída
uma nova biblioteca por Guillaume Tupin, no início do século XVI. Entretanto, no
decorrer do século XVIII ela se tornou insuficiente, sendo então empreendidas novas
construções. Estas foram arruinadas pelos acontecimentos de 1789.
No período em que Guillaume de Tupin se ocupava da construção da nova
biblioteca, um outro religioso Claude Grandrue, personagem de grande importância na
9 Uma tradução resumida dessas prescrições pode ser encontrada em Delisle (1874, p. 225).
10 No original: “Iste liber est Sancti Victoris Parisiensis; quicumque eum furatus fuerit, vel alienaverit, vel
titulum istum deleverit, anathema sit, amen.”
11 No original: “Au Moyen Age tardif, les copistes victorins n’étaient plus, en général, des très habilles
caligraphes, mais ils semblent avoir été pour la plupart intelligents e cultivés.”
12 Comentários sobre esses autores e menção a algumas de suas obras mais importantes estão presentes
em Ouy (1999, p. 11-14).
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