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Seria uma ilusão acreditar que nossa ampla classificação Lieftinck 62 (ou de
fato qualquer classificação) poderia abarcar a extensão completa de formas
de escrita encontradas em livros dos vários países europeus durante os
quatro últimos séculos da Idade Média. 63 (DEROLEZ, 2003, p. 181)
Encontramos, inclusive, autores que consideram que essa classificação chegou ao
ponto de ser inútil, devido aos meios modernos de reprodução, que retratam tão
fielmente a escrita, dispensando, assim, a necessidade em descrevê-la.
Espero viver o suficiente para conhecer o dia em que, em um catálogo de
manuscritos, a descrição da escrita se tornará inútil. Quer seja muito
aprofundada, quer seja mesmo quantificada, uma descrição jamais
substituirá uma boa foto. 64 (OUY, 1999, p. 81)
Mesmo reconhecendo todos esses aspectos, teceremos alguns comentários
acerca de uma classificação, aproximativa, da escrita de nosso corpus. A única
classificação prévia que encontramos para a escrita do texto do Livre d’Isaac é aquela
encontrada no catálogo de Ouy: “semi-cursive hâtive a l.l. 65 de lettré”. Como o próprio
autor atesta no caso de omissão de referência ao punho, ele é, então, considerado de
“mão francesa” (OUY, 1999, t. 1, p. 82). Em nossa análise, preferimos considerar a
escrita como sendo gótica minúscula (STEFFENS, 1910). Começaremos por definir, ainda
que de maneira breve, a escrita gótica. Em seguida faremos uma análise pormenorizada
da escrita do Livre d’Isaac, relevando aspectos paleográficos observados no manuscrito.
Segundo Steffens (1910, p. xx), o século XIII marca o apogeu da escrita gótica,
embora algumas tendências já apareçam desde o século XI. Galende (1999, p. 43)
considera como período gótico, aquele entre o século XII e XV, com duração até o
século XVII em alguns países. Durante o apogeu da escrita gótica, as letras eram bonitas
e bem formadas, as formas pontudas não eram exageradas e as letras não eram muito
cerradas entre si. O número de abreviaturas era moderado, com sinais bastante claros.
No decorrer dos séculos XIV e XV as letras se tornam mais pontudas e mais cerradas, a
escrita se torna negligenciada e irregular, dificultando a distinção de algumas letras (c, e
62 Classificação elaborada por Gerard Isaac Lieftinck.
63 No original: “It would be an illusion to believe that our expanded Lieftinck classification (or indeed any
classification) could encompass the whole range of script forms encountered in books from the various
European countries during the last four centuries of the Middle Age”.
64 No original: “J’espère vivre assez longtemps pour connaître le jour où, dans un catalogue de
manuscrits, la description de l’écriture deviendra inutile. Fût-elle très appronfondie, fût-elle même
quantifiée, une description ne remplacera jamais une bonne photo”.
65 l.l. = longue ligne.