Due opposte collezioni di apoftegmi: la Floresta Española di ...

Due apposte collezioni di apoftegmi 165
rizza il «magnanimo» regno di D. João V. La radicalità dell’oratoriano risulta indubbiamente
funzionale alla riproposizione di quella missione propagatrice della
fede cristiana, rivendicata dalla monarchia portoghese fin dal suo costituirsi, che
orienta il comportamento politico-religioso del nuovo sovrano. Tale ideologia, secondo
la quale le imprese militari portoghesi trovano interpretazione storica nella
giustificazione divina, viene abbondantemente sviluppata da Bernardes all’interno
del titolo VIII della Nova Floresta, Armas: «Porque estas foram por Deus specialmente
elegidas para perseguição e estrago daquela ímpia e sórdida gentilidade
[maomettana]; e, assim, enquanto os portugueses seguirem com justo direito esta
vocação, podem esperar felicíssimo êxito de suas empresas». Egli enumera gli
episodi che provano tale verità, «logo, desde o berço da monarquia», resa evidente
dallo spropositato numero di avversari uccisi in ogni occasione rispetto alle sempre
esigue forze a disposizione dei re lusitani: dal conte D. Henrique no campo de
Ourique, na tomada de Lisboa e de Badajoz, a D. Afonso II em Salácia (Alcácer do
Sal), a D. Afonso IV na batalha do Salado, a D. João I na tomada de Ceuta, e nas
de Arzila e Tânger al tempo di D. Afonso V, fino alle famose conquiste ultramarine
dei capitani portoghesi «nas praças de Mazagão, Diu, Calecute, Chaul, Columbo,
Cananor, Cochim, Malaca, contra mui poderosos inimigos». È lo stesso oratoriano
che con espressione metaretorica si riferisce al delectare e inusitatamente ne ammette
l’implicita connotazione iperbolica: «alguns casos que dentro das mesmas
ferocidades de Marte descobrem um não sei que de cómica graciosidade». Vale
la pena citare questo esempio: «Em Ceuta, indo D. Afonso da Cunha, em certo
recontro, atrás de um mouro, ao atirar-lhe uma cutilada, lhe resvalou a espada e
saltou fora da mão; mas em vez de assustar-se com o caso, tomou maior cólera
e gritou ao mouro, dizendo-lhe: Oh cão, levanta e traze aqui logo. E o mouro,
temendo que, se não obedecesse, tinha a morte mais certa, voltou humilde, levantou
do chão a espada e lha entregou. E o Cunha então, compadecido, o deixou
ir livre». Il breve commento analogico-ingegnoso di Bernardes spiega che «este
português usava daquele mouro como de escravo para o mando senhoril e como
de liberto para a manumissão fácil; ou fazia conta que aquele infiel era juntamente
caça e cão: caça para correr perseguindo-a, e cão para lhe trazer o que caísse».
L’oratoriano indulge ancora nell’espressione concettosa utilizzando, come spesso
avviene, la traslazione metaforica predicabile fornita da una sentenza patristica;
in tal caso quella di san Gregorio Nisseno che definisce il cane Hominis gladium
vivum 165 : «Como aqui o cristão era o homem e o mouro o cão, no cão achou o
165 Saramago ricorda il carattere arbitrario delle parole; sono gli uomini che le stabiliscono ed i cani,
poveretti, estranei alle qualità grammaticali, assistono a quelle dispute: «Cão, diz o mouro, Cão és tu,
responde o cristão, e ei-los que se batem com lança, espada e adaga, enquanto os rafeiros dizem uns
para os outros, Somos nós os cães, e não se importam»; J. SARAMAGO, História do Cerco de