Dissertação Teo Bueno - Museu da Vida
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Depois desse comentário, o editor realiza uma paráfrase do discurso científico<br />
sobre evolução:<br />
67<br />
“A segun<strong>da</strong> revolução, que acabou de vez com<br />
nosso narcisismo e antropocentrismo, foi sabermos que,<br />
aos olhos do universo somos parte e não todo de um<br />
mesmo e democrático ambiente. Perante a criação, como<br />
diria Adélia Prado, temos a mesma importância de uma<br />
galinha, de uma barata, uma lagartixa, de uma folha seca<br />
que o vento faz cair e se recicla sem alarde no solo do<br />
planeta.”<br />
Esse trecho do editorial remete ao discurso científico na medi<strong>da</strong> em que faz<br />
menção às modernas teorias de evolução que situaram a espécie humana como mais<br />
uma <strong>da</strong>s espécies evoluí<strong>da</strong>s via seleção natural e não por caprichos divinos. No entanto,<br />
não fica claro no texto a articulação dessa segun<strong>da</strong> revolução com o desenvolvimento e<br />
estabelecimento dessas teorias evolutivas produzi<strong>da</strong>s no âmbito acadêmico e científico.<br />
Pelo contrário, esse trecho reforça ain<strong>da</strong> mais os aspectos espiritualizados do discurso<br />
sobre meio ambiente do JB Ecológico devido às expressões “... aos olhos do<br />
universo...” e “...perante a criação...” que dão a entender que existe algo, alguém ou<br />
alguma força testemunhando nossa existência terrena.<br />
Outro ponto que nos chamou atenção no trecho acima foi o fato dele conceituar<br />
o ambiente segundo uma visão muito difundi<strong>da</strong> no senso comum. A expressão “somos<br />
parte de um mesmo e democrático ambiente” reflete uma posição que entende o<br />
ambiente como um espaço harmônico onde todos os seres, com exceção dos seres<br />
humanos, convivem em equilíbrio. Essa é uma visão que, por exemplo, não é<br />
compartilha<strong>da</strong> pelo discurso científico <strong>da</strong> Ecologia que estu<strong>da</strong> um ambiente em<br />
constante mu<strong>da</strong>nça que se configura em função dos processos competitivos e<br />
cooperativos entre espécies que buscam a todo custo se manterem vivas e produzindo<br />
descendentes.<br />
Curiosamente há uma citação <strong>da</strong> escritora Adélia Prado que traz imagens do<br />
cotidiano e busca estabelecer, desta forma, nexos entre a descrição mais abstrata <strong>da</strong><br />
evolução. Este discurso relatado evoca certo tom de humil<strong>da</strong>de ao comparar seres<br />
humanos com lagartixas ou folhas secas. Esse tom de humil<strong>da</strong>de reflete uma posição<br />
que questiona o modelo antropocêntrico e que procura construir uma relação de<br />
harmonia entre a espécie humana e a as demais espécies que habitam nosso planeta. A