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FLAVIA CAMPOS DE MELO SILVA - Unisul

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aquela que passa fome, que vive submetida a dietas, cujo corpo magro é tido como condição<br />

fundamental para suas relações sociais. Na opinião de Del Priore, tentando construir-se<br />

socialmente calcada quase que exclusivamente na montagem e escultura do corpo, a mulher<br />

deixa de servir-se de seu corpo, passando a servi-lo.<br />

Foucault, em Vigiar e Punir (1975), afirma que o corpo é objeto de investimentos<br />

imperiosos e urgentes e que em qualquer sociedade, limitações, proibições e obrigações são<br />

impostas aos corpos. Como afirmei acima, a partir do século XX, com especial ênfase nas<br />

décadas finais deste século, a mulher começou a impor a si mesma processos disciplinares na<br />

tentativa da produção de um corpo exercitado e submisso, um corpo “dócil”. Sobre a<br />

disciplina corporal, Foucault (1975, p. 150) argumenta que:<br />

A disciplina produz, a partir dos corpos que controla, quatro tipos de<br />

individualidade, ou antes uma individualidade dotada de quatro características: é<br />

celular (pelo jogo da repartição espacial), é orgânica (pela codificação das<br />

atividades), é genética (pela acumulação do tempo), é combinatória (pela<br />

composição das forças). E para tanto, utiliza quatro grandes técnicas: constrói<br />

quadros; prescreve manobras; impõe exercícios; enfim, para realizar a combinação<br />

das forças, organiza “táticas”.<br />

Em entrevista concedida em 2001 a um jornal de circulação nacional, a então<br />

primeira-dama da cidade do Rio de Janeiro – Mariangeles Maia – reconheceu o quão vaidosa<br />

era e ainda fez o seguinte comentário: “[...] no Brasil, se você passou dos 25 anos e tem dois<br />

quilos a mais, você está morta. Aqui a mulher não pode envelhecer, nem engordar. Você<br />

também não encontra mais uma roupa adequada para uma mulher da minha idade” (apud<br />

VILLAÇA; GÓES, 2001, p. 169). O depoimento dado por Mariangeles Maia vem ao encontro<br />

do tema central desse estudo. Velhice, gordura e roupas “inadequadas” são marcas corpóreas<br />

que excluem os indivíduos socialmente, em especial a mulher.<br />

Outro ponto que deve ser levado em consideração na fala acima citada é a forma<br />

como a entrevistada se refere à roupa. As roupas expostas na mídia (e à venda nas melhores<br />

lojas e shopping centers do país) são modeladas para pessoas que possuem corpos esguios. O<br />

corpo com sobrepeso, ou de alguma forma fora do padrão hegemônico imposto socialmente<br />

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