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51 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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O reina<strong>do</strong> <strong>de</strong> D. Luiz foi marca<strong>do</strong> por inúmeras catástrofes e tragédias, entre as quais um<br />

fortíssimo temporal que, castigan<strong>do</strong> a cida<strong>de</strong> durante quatro dias consecutivos, provocou a rutura<br />

<strong>do</strong>s aquedutos; com essa enchente sobrevieram os <strong>de</strong>sabamentos <strong>de</strong> casas, assim como o lixo e<br />

<strong>de</strong>jetos <strong>de</strong>posita<strong>do</strong>s nos mangues e lagoas próximas foram carrea<strong>do</strong>s para a cida<strong>de</strong> provocan<strong>do</strong> uma<br />

série <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias como o tifo, a varíola e a peste bubônica. Estava forma<strong>do</strong> o palco natural para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da gripe que grassava em Lisboa e que, em alusão à famosa cantora da época,<br />

recebeu seu nome - Zamperini.<br />

Foi então que D. Luiz man<strong>do</strong>u aterrar a Lagoa <strong>do</strong> Boqueirão da Ajuda, aproveitan<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>smonte <strong>do</strong> Outeiro das Mangueiras. Alguns historia<strong>do</strong>res atribuem essa resolução a um episódio<br />

romântico, contan<strong>do</strong> que D. Luiz, ao passar, por acaso, pelas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa lagoa, viu uma<br />

pequena cabana la<strong>de</strong>ada por um coqueiro, on<strong>de</strong> habitava uma jovem muito bonita pela qual se<br />

enamorou; em homenagem a ela man<strong>do</strong>u que se aterrasse a lagoa para ali construir um jardim.<br />

Tenha ele si<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> por motivos românticos ou pressiona<strong>do</strong> por razões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,<br />

a verda<strong>de</strong> é que resultou daí o mais conheci<strong>do</strong> empreendimento <strong>de</strong>sse Vice-Rei e q[üe <strong>de</strong>u ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> o seu primeiro <strong>Jardim</strong> Público.<br />

As obras <strong>do</strong> aterro tiveram início em 1779 e terminaram quatro anos mais tar<strong>de</strong>; já<br />

naquela época grassava um mal político bem nosso conheci<strong>do</strong>: não havia verbas. D. Luiz, porém, ao<br />

mesmo tempo que livrava a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s maus elementos, encontrava a solução para o seu problema:<br />

man<strong>do</strong>u pren<strong>de</strong>r, na Ilha das Cobras, to<strong>do</strong>s aqueles que não tivessem ocupação <strong>de</strong>finida. Quem<br />

conhecesse um ofício era obriga<strong>do</strong> a trabalhar nele e, o dinheiro assim arrecada<strong>do</strong> era utiliza<strong>do</strong> nas<br />

obras; os que não tinham profissão trabalhavam no <strong>de</strong>smonte <strong>do</strong> Outeiro e no transporte <strong>de</strong> terra<br />

para a Lagoa. Após termina<strong>do</strong>s essas tarefas preliminares, dispunha o Vice-Rei <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> 20<br />

hectares, que foi entregue a Valentim da Fonseca e Silva, cognomina<strong>do</strong> o Mestre Valentim, para<br />

que ali construísse um <strong>Jardim</strong>.<br />

Mestre Valentim era filho <strong>de</strong> um fidalgote português, contrata<strong>do</strong>r <strong>de</strong> diamantes e uma<br />

negra, provavelmente escrava. Não se conhece com exatidão a data e local <strong>de</strong> seu nascimento, sen<strong>do</strong><br />

possivelmente entre 1740 e 1750, em Minas Gerais ou <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>. Estu<strong>do</strong>u em Lisboa on<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolveu seu gran<strong>de</strong> senso artístico. Voltan<strong>do</strong> ao <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> tornou-se conheci<strong>do</strong> por seus<br />

trabalhos <strong>de</strong> entalhe, escultura e arquitetura; como utilizava motivos da fauna e flora brasileiras, foi<br />

o cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong> nacionalismo na nossa arte. Suas realizações artísticas po<strong>de</strong>m ser apreciadas entre<br />

outras, principalmente nas Igrejas <strong>do</strong> Carmo, São Francisco <strong>de</strong> Paula e Cruz <strong>do</strong>s Militares, bem<br />

como no que ainda resta <strong>de</strong> sua obra no Passeio Público.<br />

Para alguns, esse jardim era quase retangular, para outros era hexagonal. As ruas, em linhas<br />

retas, se encontravam forman<strong>do</strong> <strong>de</strong>senhos geométricos <strong>de</strong> diferentes tamanhos e as duas principais<br />

cruzavam-se ao centro, resultan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse cruzamento uma gran<strong>de</strong> praça. Era fecha<strong>do</strong> em três la<strong>do</strong>s<br />

por um muro alto, fenestra<strong>do</strong> <strong>de</strong> espaço a espaço e ornamenta<strong>do</strong> com vasos <strong>de</strong> cantaria e ao fun<strong>do</strong>,<br />

limita<strong>do</strong> por um gran<strong>de</strong> terraço que se projetava sobre o mar, ilumina<strong>do</strong> por oito lampiões <strong>de</strong> azeite<br />

<strong>de</strong> peixe e cerca<strong>do</strong> por uma balaustrada <strong>de</strong> bronze, com piso <strong>de</strong> cantaria e mármore, ao qual se<br />

tinha acesso por quatro escadas, uma em cada extremida<strong>de</strong> <strong>do</strong> jardim e uma em cada la<strong>do</strong> da<br />

cascata central; nas laterais <strong>de</strong>sse terraço, havia <strong>do</strong>is pavilhões quadrangulares, o da esquerda<br />

orna<strong>do</strong> com uma estátua <strong>de</strong> Mercúrio e o da direita com uma estátua <strong>de</strong> Apoio, ambas em mármore<br />

português. A entrada <strong>do</strong> jardim era fechada por um portão <strong>de</strong> ferro firma<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is pilares <strong>de</strong> pedra<br />

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