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51 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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USO E COMPORTAMENTO DO PUBLICO<br />

O que oferece o Parque <strong>do</strong> Passeio Público ao homem <strong>do</strong>s nossos tempos?<br />

Ao que parece, os parques "navegam" por mares misteriosos, pois conseguem ir vencen<strong>do</strong><br />

o calendário <strong>do</strong>s séculos e continuam a ser uma constante imprescindível na paisagem<br />

metropolitana <strong>do</strong>s nossos dias.<br />

Nesta era atribulada, povoada <strong>de</strong> expectativas ansiadas a reclamar por atmosfera mais<br />

límpida e saudável, eis que os parques, tais quais milagrosos oásis no urbanismo acentua<strong>do</strong>,<br />

perduram galhardamente como "ilhas ver<strong>de</strong>s" cujo magnetismo é um convite encanta<strong>do</strong> ao<br />

<strong>de</strong>scanso físico, um apelo ao repouso mental, uma exortação à liberação espiritual e sobretu<strong>do</strong>,<br />

uma chamada singela ao reflexo <strong>do</strong> homem à natureza como queren<strong>do</strong> fazê-lo voltar às<br />

reminiscências <strong>do</strong>s tempos passa<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> eram mais estreitas e mais puras as suas relações com a<br />

natureza.<br />

Mais <strong>do</strong> que nunca eles se fazem necessários. Acessíveis fontes <strong>de</strong> refúgio ameno, assumem<br />

o cenário reconforta<strong>do</strong>r tão propício aos caminhantes ávi<strong>do</strong>s por uma pausa.<br />

É .fácil presenciar crianças, que passam pelas re<strong>do</strong>n<strong>de</strong>zas, solicitar <strong>de</strong> seus acompanhantes<br />

uma fugida para a "ilha ver<strong>de</strong>". Existirá melhor testemunho <strong>de</strong> sua utilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> que o <strong>de</strong> uma<br />

criança, ao manifestar os seus impulsos <strong>de</strong> correr por entre caminhos ver<strong>de</strong>s ou <strong>de</strong> sentar-se no<br />

<strong>de</strong>clive grama<strong>do</strong> e sentir o frescor e o <strong>de</strong>leite da proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água cristalina? Por acaso, em<br />

geral não gostamos <strong>de</strong> entemecer-nos à "matinata" <strong>do</strong>s pássaros <strong>de</strong> trinar melodioso, ou <strong>de</strong><br />

extasiarmo-nos ante os seus graciosos e caprichosos vôos repletos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>?<br />

O Parque <strong>do</strong> Passeio Público justamente oferece tu<strong>do</strong> isto aos seus visitantes e aos seus<br />

freqüenta<strong>do</strong>res. Do fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> ambiente repousante emana a força <strong>de</strong> evocação ao culto <strong>do</strong> belo -<br />

beleza e harmonia que o parque <strong>de</strong>ixa transpirar ao longo das suas alamedas, à sombra acolhe<strong>do</strong>ra<br />

<strong>do</strong>s seus arvore<strong>do</strong>s, na poesia das suas pontes e no recato das suas águas.<br />

Vejamos em seguida, num breve apanha<strong>do</strong> os usos que o público faz <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> parque.<br />

1. A "ALVORADA NO PARQUE"<br />

A alvorada no parque é marcada sobretu<strong>do</strong> pela movimentação <strong>do</strong>s vagabun<strong>do</strong>s no seu<br />

interior. Se imaginarmos um fun<strong>do</strong> musical, ele seria o palco duma pequena comédia. Os<br />

malandros, antes <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> confortaveimente nos bancos, acordam e, por vezes, após algumas<br />

imprecações e observações minuciosas enquanto caminham, dirigem-se ao "banho diário" que<br />

consta <strong>de</strong> uma breve lavagem <strong>do</strong> rosto na fonte, à entrada <strong>do</strong> parque.<br />

Alguns portam sacos ou sacolas, outros nada (os sacos hoje estão muito caros... e<br />

raros...); roupas e fisionomias amarrotadas; rostos muitas vezes barba<strong>do</strong>s e cabelos gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>sajeita<strong>do</strong>s sorvem água na fonte e retiram-se logo após para "ganhar a vida" e retornar pela noite.<br />

Esta parte <strong>do</strong> dia torna o parque o "império <strong>do</strong>s vagabun<strong>do</strong>s". Esten<strong>de</strong>-se <strong>do</strong> nascer <strong>do</strong> sol<br />

até por volta <strong>de</strong> 7:00 horas. São moços ou velhos, mal vesti<strong>do</strong>s ou não, mas que jamais ouvirão falar<br />

<strong>de</strong> pressões emocionais. Alguns retardatários continuam entregues ao bom Morfeu após as 7:00<br />

horas. Às vezes nem a ducha fria da Companhia Ceres consegue <strong>de</strong>spertá-los. Muito embora<br />

qualquer <strong>de</strong>pendência seja utilizada, existe no parque o "refúgio <strong>do</strong> sono", área cuja configuração é<br />

feita "sob medida" para tanto, on<strong>de</strong> freqüentemente são encontra<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>rminhocos retardatários.<br />

É-justamente on<strong>de</strong> se acha o chafariz (seco) <strong>do</strong> Cupi<strong>do</strong>, numa pequena "enseada" <strong>do</strong> parque.<br />

Os vagabun<strong>do</strong>s são freqüentes tanto <strong>de</strong> manhã quanto na parte da tar<strong>de</strong> <strong>do</strong> dia. E comum<br />

vê-los <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> pelos bancos a qualquer hora <strong>do</strong> dia. Aí fazem as suas refeições e lêem o seu<br />

jornal.<br />

Além <strong>de</strong>stes profissionais <strong>do</strong> sono, encontram-se com freqüência no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> dia,<br />

usuários <strong>do</strong>rmitantes, dan<strong>do</strong> cabeçadas no próximo ou queren<strong>do</strong> furar não só o próprio peito com<br />

o queixo como ainda a ma<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> banco. Outros assumem poses grotescas, recosta<strong>do</strong>s, pernas<br />

escancaradas a incomodar o vizinho, cabeça no espaldar e boca e nariz roncônicos.<br />

Dentre os vagabun<strong>do</strong>s há também mulheres, embora em número muito pequeno. Entre<br />

estas, há a célebre lava<strong>de</strong>ira, que lava a sua roupa na água <strong>do</strong> lago e faz uso <strong>do</strong> grama<strong>do</strong> como<br />

cora<strong>do</strong>r.<br />

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