51 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
51 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
51 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
jacarés que sain<strong>do</strong> <strong>do</strong>s roche<strong>do</strong>s representassem os po<strong>de</strong>rosos que, muitas vezes, caçam as ariscas<br />
garças, <strong>de</strong>struin<strong>do</strong> assim a felicida<strong>de</strong> alheia ... Foi esta singela lenda carioca a origem da cascata <strong>do</strong><br />
Passeio Público. A <strong>de</strong>scrição da mesma é a seguinte:<br />
"Ao fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> jardim, junto ao terraço e la<strong>do</strong> oposto <strong>do</strong> portão principal, erguia-se uma<br />
cascata, formada <strong>de</strong> larga bacia <strong>de</strong> pedra trabalhada, cujo <strong>de</strong>senho era um arco <strong>de</strong> círculo<br />
polilóbulo, <strong>de</strong> belíssimo efeito; <strong>do</strong> centro, elevava-se uma base semicircular com um amontoa<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
pedras brutas, em cujas frestas a vegetação era exuberante em avencas, tinhorões, samambaias e, <strong>do</strong><br />
centro seu elegante coqueiro <strong>de</strong> bronze, com os respectivos frutos, to<strong>do</strong> pinta<strong>do</strong> ao natural. Entre<br />
as folhagens, três garças <strong>de</strong> bronze, <strong>de</strong> cujos bicos caía água, e por baixo <strong>do</strong> amontoa<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedras,<br />
como uma toca, saíam <strong>do</strong>is jacarés entrelaça<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>bronze.<strong>de</strong> cujas mandíbulas jorrava água.<br />
Ao fun<strong>do</strong>, lateralmente duas escadarias <strong>de</strong> treze <strong>de</strong>graus, e balaustrada <strong>de</strong> ferro e bronze,<br />
dan<strong>do</strong> acesso ao terraço, ligadas pelo corpo central <strong>de</strong> pedra, que, em forma <strong>de</strong> frontão curvo,<br />
arrematava na parte superior, em mármore branco com as armas <strong>de</strong> D. Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos. O<br />
aspecto <strong>do</strong> conjunto dava a impressão <strong>de</strong> um triângulo isósceles, ten<strong>do</strong> por base o tanque, pelos<br />
la<strong>do</strong>s as escadarias, e, pelo vértice, as armas <strong>do</strong> Vic^Rei. Na face oposta, <strong>do</strong> corpo central da<br />
cascata, e no patamar <strong>do</strong> terraço, havia ao centro dssse frontão uma estátua <strong>de</strong> mármore,<br />
representan<strong>do</strong> um menino <strong>de</strong>spi<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> na mão pequena tartaruga que lançava água num barril<br />
<strong>de</strong> pedra, com quatro arcos <strong>de</strong> bronze. O menino, <strong>de</strong>spi<strong>do</strong>, era circunda<strong>do</strong> por uma fita com a<br />
frase: "Sou útil ainda brincan<strong>do</strong>".<br />
O terraço formava um fun<strong>do</strong> para a cascata, no qual, na linha <strong>do</strong> patamar, corria um<br />
parapeito, aberto ao centro para entrada <strong>do</strong> mesmo. Era assim antigamente a "Cascata <strong>do</strong> Passeio<br />
Público".<br />
To<strong>do</strong>s os trabalhos foram executa<strong>do</strong>s por Mestre Valentiiri, artista <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong>s Vice-Reis<br />
que mo<strong>de</strong>lou o coqueiro, as garças, os jacarés, em bronze fundi<strong>do</strong>.<br />
O coqueiro <strong>de</strong> bronze foi <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> com o passar <strong>do</strong>s tempos e substituí<strong>do</strong> na época <strong>do</strong><br />
Vice-Rci Con<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Arcos, pelo busto <strong>de</strong> Diana, esculpi<strong>do</strong> em mármore branco e assenta<strong>do</strong> sobre<br />
uma pequena coluna <strong>de</strong> pedra tosca. As garças que representavam os felizes e <strong>de</strong>spreocupa<strong>do</strong>s<br />
habitantes <strong>do</strong> Boqueirão e, talvez por sua brancura imaculada, a pureza <strong>de</strong> Susana, também<br />
<strong>de</strong>sapareceram. No reina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pedro I, continuou em aban<strong>do</strong>no o Passeio Público e cora ele a<br />
cascata e o chafariz. O povo arrancou <strong>do</strong> portão principal as efígies <strong>do</strong>s reis portugueses, e da<br />
cascata o escu<strong>do</strong> <strong>de</strong> D. Luiz <strong>de</strong> Vasconcelos, que mais tar<strong>de</strong> voltaram a seus lugares.<br />
O menino <strong>de</strong> mármore <strong>de</strong>sapareceu ou então resolveram fazer outro igual, em chumbo pinta<strong>do</strong>,<br />
que foi coloca<strong>do</strong> no mesmo lugar e cujo autor se <strong>de</strong>sconhece. Neste, a água era lançada diretamente<br />
da mão direita.<br />
Durante o ano <strong>de</strong> 1839, fizeram-se várias obras no Passeio Público; foram acaba<strong>do</strong>s e<br />
assenta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>ze peças <strong>de</strong> cantaria pertencentes à bordadura <strong>do</strong> tanque, assim como três lagos e <strong>do</strong>is<br />
encostos; abriram-se caixas e chumbaram-se vinte e <strong>do</strong>is gatos <strong>de</strong> bronze; fez-se uma peanha para o<br />
menino <strong>de</strong> chumbo c o tanque ficou inteiramente pronto.<br />
Na época <strong>do</strong> prefeito Carlos Sampaio, a cascata foi modificada, fican<strong>do</strong> a escadaria<br />
reduzida a nove <strong>de</strong>graus; o busto <strong>de</strong> Diana ficou sem o nariz; o barril <strong>do</strong> chafariz <strong>do</strong> Menino foi<br />
aumenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 40 cms. Portanto, este recanto pouco lembra o original.<br />
O Passeio Público, construí<strong>do</strong> com tão carinhoso propósito - o <strong>de</strong> perpetuar a memória <strong>de</strong><br />
um afeto que não se tornou conquista, transforman<strong>do</strong>-se, liricamente, na mais pura amiza<strong>de</strong> —<br />
continua fiel ao seu objetivo, agasalhan<strong>do</strong> casais cheios <strong>de</strong> amor que percorrem as alamedas<br />
ensombradas e românticas, ou <strong>de</strong>scansam, <strong>de</strong> mãos dadas, em seus bancos acolhe<strong>do</strong>res, juran<strong>do</strong>,<br />
prometen<strong>do</strong>, arruinan<strong>do</strong> frases repassadas <strong>de</strong> ternura, que se renovam, dia-a-dia, através das<br />
gerações.<br />
MONUMENTOS<br />
1 - VALENTIM DA FONSECA E SILVA, Mestre Valcntim, escultor e entalha<strong>do</strong>r brasileiro,<br />
nasci<strong>do</strong> c faleci<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o artista <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser apreciada<br />
toda a sua arte, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> em fins <strong>do</strong> século XVIII, o maior empresário das obras <strong>de</strong> ornamentação<br />
que aqui se fizeram. Era filho <strong>de</strong> um fidalgo português e <strong>de</strong> uma crioula, segun<strong>do</strong> seu antigo<br />
discípulo e primeiro biógrafo, Simeão José <strong>de</strong> Nazaré. Mestre Valentim <strong>de</strong>ve ter nasci<strong>do</strong> no <strong>de</strong>cênio<br />
entre 1740 e 1750. É possível que ainda criança, tenha si<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> a Portugal por seu pai, e que<br />
242