51 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
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populares e influentes nas áreas intelectuais brasileiras. A temática "americana" serviu-lhe para<br />
fazer a poesia voltar-se para a terra natal, libertan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>finitivamente da tutela portuguesa. Numa<br />
carta <strong>de</strong> 1864 mostra que até a sua concepção da língua era "brasileira". Censurava o purismo <strong>de</strong><br />
seu amigo O<strong>do</strong>rico Men<strong>de</strong>s, por lhe "parecer que vai nisso excesso <strong>de</strong> lusitanismo", e dizia "Bom<br />
ou mau gra<strong>do</strong>, a língua tupi lançou profundíssimas raízes no português que falamos e nós não<br />
po<strong>de</strong>mos, nem <strong>de</strong>vemos atirá-las a um canto a pretexto <strong>de</strong> que a outros parecem bárbaras e<br />
mal-soantes. Contra isso protestaria a nossa Flora, a nossa Zoologia, a nossa Topografia. Clássico ou<br />
não clássico - Pernambuco é Pernambuco, cajá, paca e outros semelhantes, não têm outro nome.<br />
Se isso <strong>de</strong>sagrada a Portugal é gran<strong>de</strong> pena, não tem remédio". As florestas e indígenas primitivos,<br />
com suas lendas e mitos, seus dramas e conflitos, suas lutas e amores, oferecem-lhe um mun<strong>do</strong> rico<br />
<strong>de</strong> significação simbólica, através <strong>de</strong> cuja representação artística a alma brasileira se afirmava<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, consolidan<strong>do</strong> a tendência que crescia <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nativismo colonial. Esse<br />
complexo temático em torno <strong>do</strong> silvícola <strong>de</strong>nominou-se Indianismo. E, embora não tenha si<strong>do</strong><br />
Gonçalves Dias o seu introdutor na poesia, foi ele quem mais alto o elevou, como nos famosos<br />
poemas "I Juca-Pirama", "Marabé", "Leito <strong>de</strong> Folhas Ver<strong>de</strong>s", "Canto <strong>do</strong> Piaga", "Canto <strong>do</strong><br />
Tamoio", "Canto <strong>do</strong> Guerreiro", ou na epopéia <strong>do</strong>s Timbiras.<br />
Sua obra indianista está contida nas "Poesias Americanas" <strong>do</strong>s Primeiros Cantos e Últimos<br />
Cantos, além <strong>do</strong>s Timbiras.<br />
17 - OLAVO BRAZ MARTINS DOS GUIMARÃES BILAC (1865-1918)? Poeta brasileiro,<br />
nasci<strong>do</strong> e faleci<strong>do</strong> no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, integrou com Alberto <strong>de</strong> Oliveira e Raimun<strong>do</strong> Correia a<br />
famosa trinda<strong>de</strong> parnasiana e é até hoje um <strong>do</strong>s mais populares poetas <strong>do</strong> país. As edições <strong>de</strong> suas<br />
poesias constantemente são publicadas. Estu<strong>do</strong>u Medicina e Direito, no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong> e em São<br />
Paulo, não completan<strong>do</strong> nenhum <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is cursos, <strong>de</strong>dican<strong>do</strong>-se ao jornalismo e à literatura. Teve,<br />
como jornalista, participação intensa na política e em campanhas cívicas <strong>de</strong> alcance nacional.<br />
Durante a revolta <strong>de</strong> 1893, foi um <strong>do</strong>s persegui<strong>do</strong>s pelo governo <strong>de</strong> Floriano Peixoto, ten<strong>do</strong><br />
passa<strong>do</strong> algum tempo escondi<strong>do</strong> em Minas Gerais. Esteve preso na Fortaleza da Lage, na<br />
Guanabara. Exerceu diversos cargos públicos, corno oficial da Secretaria <strong>do</strong> Interior <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Janeiro</strong>, inspetor escolar <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, secretário da Conferência Pan-Americana em 1906, no<br />
<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> a essa Conferência em Buenos Aires. Sua campanha<br />
mais famosa foi em favor <strong>do</strong> serviço militar obrigatório, inclusive como instrumento para a<br />
alfabetização.<br />
Conferencista notável, numa época <strong>de</strong> moda das conferências no <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>, isso<br />
aumentava as razões <strong>de</strong> sua imensa popularida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong>-o o poeta mais li<strong>do</strong> <strong>do</strong> país nos <strong>do</strong>is<br />
primeiros <strong>de</strong>cênios <strong>do</strong> século XX, quan<strong>do</strong> seus sonetos <strong>de</strong> chave <strong>de</strong> ouro, eram <strong>de</strong>cora<strong>do</strong>s e<br />
<strong>de</strong>clama<strong>do</strong>s em toda parte, nos saraus e salões literários. Foi membro funda<strong>do</strong>r da Aca<strong>de</strong>mia<br />
Brasileira <strong>de</strong> Letras e propagandista <strong>do</strong>s princípios nacionalistas.<br />
A estréia <strong>de</strong> Olavo Bilac <strong>de</strong>u-se com um volume <strong>de</strong> Poesias (1888) quan<strong>do</strong> o parnasianismo<br />
já estava firma<strong>do</strong> no Brasil, <strong>de</strong>pois que as poesias filosóficas realista e socialista haviam aberto o<br />
caminho para a mudança <strong>de</strong> rumos em face <strong>do</strong> esgotamento e <strong>de</strong>clínio <strong>do</strong> romantismo. O livro<br />
continha o grupo <strong>de</strong> sonetos da Via-Láctea, que se tornariam <strong>do</strong>s mais famosos e populares da<br />
poesia brasileira e a "Profissão <strong>de</strong> Fé", em que ele codifica o seu cre<strong>do</strong> parnasiano e clássico, pelo<br />
culto <strong>do</strong> estilo, da pureza formal e da linguagem, da correção <strong>do</strong> verso. Bilac foi o cinzela<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s<br />
sonetos talvez mais perfeitos da língua, na tradição sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Bocage, com <strong>de</strong>cassílabos<br />
rigorosos, imagens sóbrias, riqueza métrica, <strong>de</strong> sua elegância e sonorida<strong>de</strong>, que conquistam o leitor,<br />
ainda mais porque se ali a um ar<strong>de</strong>nte sensualismo, impregnação evi<strong>de</strong>nte das teorias realistas. Ao<br />
la<strong>do</strong> <strong>do</strong> lírico, aprecia<strong>do</strong> acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, há em Bilac uma tonalida<strong>de</strong> épica, que se <strong>de</strong>staca<br />
especialmente no poema o Caça<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Esmeraldas, em que celebra os feitos e sobretu<strong>do</strong> a <strong>de</strong>silusão<br />
e morte <strong>do</strong> ban<strong>de</strong>irante Fernão Dias Pais. Mas o poeta vinha evoluin<strong>do</strong> em seu pensamento,<br />
<strong>de</strong>scamban<strong>do</strong> para uma filosofia feita <strong>de</strong> contemplação, <strong>de</strong> reflexão sobre a morte e o <strong>de</strong>stino<br />
humano. Essa fase <strong>de</strong> sua poesia consagrou-se <strong>de</strong>finitivamente no livro Tar<strong>de</strong>, apareci<strong>do</strong><br />
postumamente (1919), no qual <strong>de</strong>sabrocha a tendência para a inquietação <strong>de</strong> pensamento. Poemas<br />
como "Os Sinos", "As Árvores", "As Ondas", são alguns <strong>do</strong>s mais altos espécimes <strong>do</strong> lirismo<br />
parnasiano. Sua obra poética está enfeixada no pequeno volume das Poesias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1921, com<br />
sucessivas reedições. Além da poesia, Bilac <strong>de</strong>ixou conferências literárias e ensaios críticos, contos e<br />
obras didáticas. Sua posição como poeta nas letras brasileiras sofreu a reação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rnismo, a<br />
partir <strong>de</strong> 1922. Todavia, sua glória é fato incontestável, pela alta categoria <strong>de</strong> sua poesia e pela<br />
sedução que continua a exercer no público.<br />
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