O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...
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Capítulo III<br />
Construção feminina da noção do corpo e das experiências da gravidez<br />
O Joaquim arranjou namorada e mesmo assim não se furtou ao convite da<br />
Becas para ir acampar, fazendo parceria com Sara que, com a sua ingenuidade,<br />
como refere, pensava que as coisas se iriam recompor:<br />
"...o Joaquim ficou na tenda comigo, depois começou de mãozinha dada, sei que nos<br />
beijamos. Fiquei convencida que quando chegássemos a casa, ia resolver o problema<br />
com a outra" (HiVi:13)<br />
Ao fim de uma semana, no regresso a casa:<br />
"Quando chegarmos a casa, somos amigos como dantes." (HiVi:13)<br />
Sentiu-se usada, chocada, magoada enquanto ele ficou indiferente. O sentido do<br />
que acaba de se explicitar poderá ter a nosso ver com o que Bourdieu chamou de<br />
"dominação masculina". Surpreende de certa maneira, a forma como esta jovem<br />
(na altura) viveu um "amor romântico" com quem nunca chegou a ter nada de<br />
íntimo, ficando-se pela relação sentimental.<br />
Depois disto, como sublinha Sara,<br />
"Não sei se tem alguma coisa a ver com a primeira experiência sexual, que foi bastante<br />
desagradável... infeliz. Marcou-me. Aconteceu com uma pessoa que conheci nas férias<br />
...e um bocado sob os efeitos do álcool..." (HiVi:14)<br />
Outras experiências se vivenciaram, mas<br />
"Nunca houve uma relação muito estável com ninguém. Era aquela coisa de férias!"<br />
(HM: 14)<br />
Assim, parafraseando Shorter, o afecto e o amor romântico têm nascentes<br />
no inconsciente e na natureza da pessoa e assentam na imprevisibilidade e<br />
transitoriedade; estando-se profundamente ligado a uma pessoa num dia e no<br />
outro já não, podendo o indivíduo, que recupera desta/s uniões dissolvidas<br />
depressa encontrar novos parceiros.<br />
Invocando novamente Shorter (1995), quando falamos de romantismo,<br />
falamos de espontaneidade e empatia, ou seja, da capacidade que os jovens,<br />
mulheres e homens, têm de criar e expressar a sua ternura, o seu afecto e de se<br />
colocar no lugar do outro. Enfim, adoptar um comportamento amoroso. "Assiste-se<br />
a uma generalização das relações sexuais por parte dos nossos jovens. A partir<br />
do momento em que os jovens se sentem atraídos um para o outro, estendem a<br />
sua relação ao domínio sexual, mesmo os que não se sentiam muito ligados, eram<br />
capazes de fazer o mesmo" (ibidem:i3i).<br />
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