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O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...

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Capítulo III<br />

Construção feminina da noção do corpo e das experiências da gravidez<br />

3.6 - Eu filhos não quero mais nenhum ou o estereótipo da maternidade como fonte<br />

de realização<br />

Vivemos numa sociedade racionalista, como tal Sara pensava que como o<br />

seu segundo filho foi um filho desejado, tudo devia ser simples, rápido, indolor,<br />

como se a vontade pudesse controlar o mundo, as coisas. Não quer dizer que não<br />

controle alguma coisa, mas não controla tudo. O acaso nem sempre é possível<br />

controlar, pois como Sara diz: corria tudo bem, como foi um parto normal, ao fim<br />

de três dias já estendia roupa, ia levar o Eduardo ao infantário com o bebé ao<br />

colo... aos nove dias de pós parto começou a sentir-se mal, fez uma depressão.<br />

Quando Sara diz que ficou traumatizada, que não quer mais filhos, esta<br />

questão pode articular-se com o facto de que as mulheres vão construindo uma<br />

imagem idealizada, uma visão estereotipada sobre a questão da maternidade.<br />

Porque é que algumas mulheres, nomeadamente as mais velhas fazem<br />

questão de contar os horrores da gravidez ou do parto. É claro que pode ter o<br />

efeito de se ficar traumatizado, mas também pode ter o efeito de prevenir, pela<br />

centração da atenção em focos com significado especial para a mulher.<br />

Acontece que o conceito de mãe não se manifesta unicamente nos<br />

processos naturais como a gravidez, o parto, o aleitamento e criar os filhos. Este<br />

conceito é uma construção social instituída por muitas sociedades. A mulher ter de<br />

ser mãe constitui um estereótipo que urge "abater", pois a mulher tem que<br />

aprender que ser mulher não implica necessariamente ser mãe. No entanto<br />

convirá referir que quando Sara diz: eu filhos não quero mais nenhum, este<br />

sentimento tem a ver com um momento difícil da vivência do seu corpo. Os<br />

problemas começaram a surgir no pós parto do Dionísio e mais tarde a vivência do<br />

parto e pós parto do Mateus culmina numa série de acontecimentos que<br />

determinaram a esterilização de Sara. Contudo, no item da história de vida:<br />

relembrando a minha relação com as experiências de gravidez Sara expressa que<br />

o Eduardo ainda não tinha dois anos e ela já tinha vontade de ter outro filho. Diz<br />

mesmo:<br />

"não podemos ter muitos filhos, mas não podemos passar sem os ter" (HiVi:35), como<br />

que parecendo "encaixar" perfeitamente no que Pfeffer (in Weber) diz:<br />

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