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O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...

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SARA: ser mulher, ser mãe - uma história vivida num corpo vivido<br />

uma situação que normalmente não deveria ocorrer: não devia ser preciso tomar injecção, nem<br />

cortar aqui ou ali.<br />

como me sinto com o corpo que tenho<br />

As raparigas e as mulheres pensam no corpo mais em função dos outros do que de si.<br />

Não gosto de ser gorda, além de me sentir deselegante, também é uma questão de<br />

saúde. Convém não engordar muito. O conceito de magro ou de gordo varia conforme a bitola de<br />

cada um. A preocupação maior que tenho hoje é com o cabelo. Às vezes acho que anda feio e<br />

que cresce pouco. Vi uns slides de quando tinha o cabelo curto. Acho que ficava giro. Se calhar<br />

ainda vou cortar! A pele na cara anda mais ou menos bem. Se quisesse podia pôr rimei mas<br />

depois esquecía-me e borratava tudo. Não me dá para pôr pinturas! Gosto da cara como está.<br />

A minha mãe tinha um lápis preto mas também nunca me lembro de a ver pintada. Não<br />

sei se isso também teve alguma influência. As pessoas com quem andávamos não se pintavam<br />

muito. Não sou capaz de pintar os lábios, embora fosse a única coisa que a minha mãe pintava.<br />

Mas a mim faz-me confusão, acho que como aquilo tudo e tenho de estar com a preocupação de<br />

ver se está pintado, ou não. Era mais uma preocupação e acho que não compensa.<br />

Gosto de uma certa feminilidade nas mulheres, mas não gosto de ver mulheres muito<br />

pintadas, parecem barbies. Não gosto de ver as mulheres em que não se sabe se são mulheres<br />

ou se são homens. Não gosto de uma mulher toda produzida, como se diz. Associo sempre uma<br />

certa futilidade. Pode nem ser verdade! mas é essa a imagem que a própria televisão cria: a<br />

mulher que aparece na televisão é um enfeite, é um bibelot, que está lá em casa, quanto mais<br />

bonitinha estiver melhor, menos pensa aquela cabeça. Se fosse homem acho que punha logo à<br />

distância uma mulher assim. Não sei, é uma maneira um bocado simplista de ver a coisa.<br />

Trabalho com uma colega que deve olhar para mim e achar que me visto pessimamente,<br />

que como professora não devia andar assim. Eu tenho exactamente a mesma reacção. É mútuo!<br />

Quer dizer cada um vê o seu lado. Às vezes quando ela olha para mim fico a pensar: "lá está ela<br />

a ver que eu vesti assim, que eu vesti assado". Mas afinal faço exactamente a mesma coisa. São<br />

ideias pré-concebidas que tenho em relação às mulheres porque aos homens já não faço isso.<br />

Tanto que considero que é uma mulher inteligente.<br />

Um dia fui a Famalicão, já não sei o que trazia, e ela disse-me: "hoje está bonita".<br />

- Os meus filhos também disseram o mesmo.<br />

Eu gosto, sabe-me bem. Claro que se tiver que ir a uma cerimónia e tiver que me pôr toda<br />

aperaltada, primo. Ando pouco de saias, porque não gosto de andar com meias, faz-me<br />

impressão. Quando estou mais angustiada, mais chateada com a vida, sou capaz de vestir com<br />

coisas mais alegres. Estes mecanismos de defesa funcionam. Parece que é universal. Lembro-me<br />

do médico dizer para sair de casa e ir às compras. Ajuda a levantar o ego. Não sei o que me faz<br />

melhor ao ego. O que faz pior é mais fácil de saber. Por exemplo, uma pessoa que<br />

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