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O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...

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SARA: ser mulher, ser mãe - uma história vivida num corpo vivido<br />

É que não reparei que estava ao lado da minha cama. Deviam ser para aí nove, dez<br />

horas da noite. Só lá para a meia noite é que eu o vi quando pegaram nele para dar o leite.<br />

Pegam nele assim de uma maneira que faz impressão. Passei bem o pós parto.<br />

Do segundo, acho que estava com medo que me fizessem o parto por cesariana. Nunca<br />

mais nascia. Fui para a instituição B, porque tinha lá o meu cunhado que é médico. Entrei de<br />

véspera, tive contracções normais. Só não correu bem porque a forma como fui tratada pela<br />

enfermeira foi horrível. Fiquei com pena que o meu marido não tivesse assistido: em princípio ia<br />

assistir, mas mudou a equipe e o meu cunhado que é médico não estava lá, acho que tive um<br />

bocado de azar, mesmo. Das médicas não tenho nada que dizer porque a médica foi impecável.<br />

Chegou uma altura em que eu disse:<br />

- Já estou um bocado cansada. E ela dizia:<br />

- Eu também já estou cansada de a ouvir respirar.<br />

Demorava muito. Já sabia que me ia doer, como no primeiro, mas comecei a ver que as<br />

contracções eram daquelas que começavam na barriga e acabavam nos rins e disse:<br />

- Isto não vai ser tão fácil como eu pensava.<br />

Não ia com ideias de que aquilo ia ser uma coisa horrorosa. Já sabia mais ou menos para<br />

o que ia. Ainda por cima, deram-me uma injecção qualquer, que não tirou dores nenhumas e<br />

drogaram-me. No intervalo das contracções sonhava, não me puseram soro. Demorei quase três<br />

horas. Não puseram nada com medo de ir para cesariana. Depois romperam-me as membranas,<br />

líquido transparente. Mandaram-me puxar e eu ainda não tinha a dilatação toda e eu<br />

preocupadíssima porque tinha aquela ideia incutida: só com dez centímetros é que pode puxar.<br />

Não, não puxo. Não tive vontade de puxar, parecia que qualquer coisa se dobrava cá dentro, era<br />

uma sensação estranha, esquisita, desagradável até. Julgava que seria a vontade de puxar, e<br />

lembrava-me de soprar as "velas". Depois passei, para a sala de partos. Entretanto, aquela<br />

enfermeira saiu às duas e, às três, veio uma amorosa que já tinha estado comigo na véspera. A<br />

médica disse:<br />

- Façam-lhe uma boa episiotomia porque tem os tecidos muito duros.<br />

Ainda rasguei, e ela esteve imenso tempo a coser. A sensação que tinha era, porque vi<br />

num filme que o período expulsivo era a parte mais difícil para as mulheres. Não acho. Não tive<br />

muitas dores, quando me cortaram, não senti nada. Eu tinha muito medo dessa parte, diziam que<br />

não dói, mas enquanto a gente não experimentar... Senti só umas picadelazitas, mas pensava<br />

assim: "bem, depois disto tudo vão fazer uma cesariana porque a criança não sai".<br />

Não tinha vontade de puxar, elas mandavam puxar sem contracções: " puxe na mesma<br />

que ele já não está a gostar de estar aí". Pensava: "tenho que puxar por todos os lados". Sentia<br />

as mãos para lá a mexer em todos os lados, tudo esticado e eu dizia assim:<br />

- Daqui a bocado, rebento ou vou para cesariana.<br />

Depois lá saiu. Tenho a sensação que ele sai todo de uma vez, mas como não vi, não sei<br />

se sai a cabeça e depois o resto. Quer dizer, o que a gente sente a sair muito rápido deve ser<br />

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