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O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...

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SARA: ser mulher, ser mãe - uma história vivida num corpo vivido<br />

com eles, nessas brincadeiras. E eu ali sentada na frente muito caladinha. A gente deu-lhe uma<br />

alcunha mas eu tinha pena dela, porque estava sempre a ver quando ela se podia sentir mal.<br />

Normalmente os rapazes iam jogar futebol, nos intervalos. Se não tivéssemos aulas,<br />

íamos conversar. Às vezes íamos dar uma volta. Não havia assim muito contacto com os rapazes.<br />

Algumas amigas, tinham grupos de amigos que não tinham nada a ver com a escola e eu ia para<br />

casa delas. Eu não tinha amigos próprios... Eu tinha os amigos delas.<br />

senhoras vs bebés ou crianças...<br />

A gente vestia-se de uma certa maneira e criticava a forma como os adultos se vestiam,<br />

como as outras se vestiam e seria quase sortilégio andar com os sapatos de tacão alto, ou andar<br />

toda repenicada, andar toda queque. Ainda me lembro de passar essa fase. É evidente que à<br />

partida sempre tive mais afinidade com pessoas que vestiam como eu.<br />

Tinha colegas, que iam todas pintadas e que gozavam connosco. Tinha doze anos e<br />

diziam que nós éramos bebés, porque dávamos cambalhotas, por isto e por aquilo. Com aquela<br />

idade já se comportavam como senhoras, já tinham namorados e assumiam-se como senhoras.<br />

Achava aquilo um horror, podia ter alguma vergonha de pensar que era mesmo bebé, mas ao<br />

mesmo tempo não tinha interesse nenhum em ser como elas. As professoras, gozavam-nas<br />

porque andavam todas pintadas e mandavam umas bocas. Eram raparigas que à partida não me<br />

atraíam nada. Uma delas, eu achava que era uma pessoa que vivia para o exterior, tinha até má<br />

impressão dela. Achava que elas não tinham nada a ver comigo, davam importância a coisas a<br />

que eu não dava a mínima importância. Depois, no sexto e sétimo ano, não me lembro de haver<br />

pessoas que se destacassem tanto por isso.<br />

Dava-me bem com a Ana, era muito simples a vestir. Às vezes gozavam-na por acharem<br />

que se vestia de uma forma antiquada ou mais infantil. Era muito boa aluna. Uma pessoa tinha a<br />

tendência sempre de separar os alunos, ou os maus, ou os bons. Também me dava com a<br />

Susana, era mais ou menos como eu, mas não havia essa coisa de ser bonita.<br />

Acho que em relação à Becas, talvez a idolatrasse um bocado, não era tanto por ser<br />

bonita, mas tinha os seus amigos e era capaz de estar mais à vontade com os rapazes do que eu.<br />

Eu não conhecia certas músicas e receava que as pessoas notassem que não sabia, lembro-me<br />

de ter certos problemas, de às vezes não me sentir completamente integrada. As coisas não eram<br />

directamente para mim, mas ela ouvia e acho que se comportava um bocado como se fosse<br />

minha mãezinha. Quer dizer, eu não precisava de mãezinhas propriamente, mas superprotegia-<br />

me, devia achar que eu era assim mais sensível. Eu era quase escanzelada, mas não era<br />

propriamente pelo aspecto frágil, era mais pela sensibilidade, porque ela gostava muito dos<br />

poemas que eu escrevia. Escrevia muito nessa altura!<br />

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