O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...
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- O meu namorado não queria, a minha mãe também não.<br />
SARA: ser mulher, ser mãe - uma história vivida num corpo vivido<br />
Eu nem sequer disso falei, de o querer ter. Não falei com ninguém nem para mim.<br />
os meus poemas<br />
Hoje se não escrevo é porque não tenho tempo, não é porque não tenha motivos, embora<br />
houvesse alguém que dissesse: a vocação do poeta é a angústia. A pessoa quando está<br />
naquelas crises existenciais tem mais tendência para escrever. Já tenho escrito algumas coisas<br />
quando estou triste, angustiada. Ainda hoje, descobri um poema, algures escrito num caderno<br />
qualquer! Quando me chateio com o marido é que me dá para escrever algumas coisas, porque a<br />
maior parte dos meus poemas não são para contar coisas bonitas.<br />
Há um poema muito bonito do Eugénio Andrade que gosto muito, que se chama assim:<br />
"Poema para o meu amor doente", ele diz assim:<br />
"Hoje roubei todas as rosas do jardim<br />
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias..."<br />
Acho que nos poemas uma pessoa traduz sempre coisas que ou não conseguiu fazer ou,<br />
é uma forma de comunicar.<br />
Já tenho pensado em escrever um livro! Uma vez mandei não sei para onde umas folhas.<br />
Quem leu uma vez os meus poemas foi o Óscar Lagos. Fez um comentário, acho que foi uma<br />
crítica positiva, mas disse que tinha que ser mais incisiva. Tenho-os para aí guardados algures,<br />
mas depois passou-se o tempo. O meu pai também escrevia, mas nunca li nada do que escreveu.<br />
relembrando a minha relação com as experiências da gravidez<br />
Gostei de estar grávida. Mas do Eduardo, apesar de ser a primeira vez, houve alturas em<br />
que já não aguentava mais a gravidez. Estou convencida que ele nasceu mais cedo, porque<br />
estava mesmo desesperada. Também para o fim do tempo tive uma certa dificuldade em ter<br />
relações sexuais, talvez tivesse menos prazer, enquanto que na gravidez do Dionísio foi até à<br />
última semana, e estava mais volumosa. Do Mateus, também não tive problemas. Foi mais do<br />
primeiro. Deste bebé, uma coisa que me lembro e que não acontecia com os outros era que<br />
ficavam quietinhos nessa altura. A gente não pensava muito neles. Este não, mexia-se que se<br />
fartava, dava conta de si, o que me fazia uma certa confusão. Não sei lá como é. Mas, eles devem<br />
saber e ficam quietinhos para não ter que estar a pensar neles, ter que pensar noutras coisas.<br />
Este não queria ser destronado e mexia-se antes, mexia-se durante e mexia-se depois. O<br />
Fernando, às vezes, mais para o fim tinha medo de os magoar e a mim fazia-me um bocado de<br />
confusão a ideia de ele estar lá dentro...<br />
O Eduardo ainda não tinha dois anos e já eu tinha vontade de ter outro. Já tinha<br />
saudades dele pequenininho. Não podemos ter muitos filhos, mas não podemos passar sem os<br />
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