O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...
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Capítulo I<br />
O corpo, as experiências da gravidez e o cuidar no feminino Construção - de uma problemática<br />
Muitos dos comportamentos considerados pudicos deixaram de o ser à medida<br />
que se foram impondo no cenário social por força do "choque", do hábito, da<br />
moda. Acabamos por lidar com eles de uma forma mais ou menos indiferente.<br />
Quiçá outros comportamentos se impõem exigindo novas aprendizagens.<br />
Assim, e não precisando de recuar muito no tempo, neste século, prestes a<br />
terminar, as questões do nu, do tapar/destapar o corpo causa(m)ram inquietude e<br />
remexe(m)ram com muitas mentalidades num esforço de adaptação e evolução<br />
sócio cultural. 20<br />
O ser humano, como animal social que é, sempre preocupado com a<br />
aparência, nunca deixou de procurar levar os outros a apreciarem o seu corpo,<br />
mesmo sob o pretexto de o esconder. O vestuário parece-nos então capaz de<br />
responder a três necessidades fundamentais: protecção, adorno e pudor. Símbolo<br />
de categoria, de classe social ou de associação com uma certa região, desde a<br />
hierarquia religiosa à burguesia rica, dos militares aos neopunks, quer se use uma<br />
boina, um traje de fantasia ou um "kilt" escocês, o vestuário simboliza um meio de<br />
expressão e afirmação social. 21 Procurando responder à necessidade de acentuar<br />
o encanto sexual, numa busca constante da perfeição estética, a roupa é, acima<br />
de tudo um símbolo de virilidade ou de feminilidade, um símbolo de afirmação<br />
sexual. Nesta perspectiva, o paradoxo parece residir no facto de exibirmos os<br />
nossos atractivos ao mesmo tempo que os queremos esconder.<br />
Assim mulheres e homens tornam-se vítimas da moda: parecer jovem é<br />
permanecer jovem, mesmo que para atingir determinada silhueta "tipo" se passe<br />
por sofrimento e privações de ordem vária. Para Bologne, os conflitos entre a<br />
moda e a moral opõem aqueles para quem o vestuário serve para esconder a<br />
nossa "vergonha de nudez" àqueles para quem ele é uma arma suplementar na<br />
Constata-se, na perspectiva de Bologne (1990) que em relação ao banho público no início do século<br />
começam a usar-se os primeiros fatos de uma só peça que se virão a difundir a partir de 1925, altura em<br />
que a moda já habituou ao desnudar dos joelhos das mulheres, nos modelos, para a vida citadina. Dez anos<br />
mais tarde surge o fato de duas peças, que encolhe para biquini nos anos cinquenta, para monoquini nos<br />
anos setenta... Para os homens, das bermudas passou-se ao slip, do string ao nudismo, num caminho<br />
paralelo à mulher, numa revelação progressiva do corpo: da centração do pudor na genitália para um outro<br />
pudor, uma outra nudez, desenvolvendo-se nos finais deste século o mito do nudismo libertador,<br />
consubstanciando-se a nudez com a expressão do paraíso terrestre.<br />
21<br />
O vestuário de uma pessoa estranha, de um modo geral, confere-nos informação imediata sobre o seu<br />
sexo, profissão, nacionalidade e meio social.<br />
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