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O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...

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SARA: ser mulher, ser mãe - uma história vivida num corpo vivido<br />

por pensar que era infértil que isso iria causar algum problema. Pronto, não sei. Convenci-me<br />

que ia ser um parto normal e que nem se ia pôr a hipótese de fazer uma cesariana.<br />

Quando a médica me veio dizer aquilo, não sei bem, não estava preparada:<br />

- Não sei, não sei. Vou falar com o meu marido. Entretanto o Fernando entrou e disse-lhe<br />

o que se passava:<br />

laqueacão?<br />

- Nem penses nisso agora, não te preocupes com isso agora!<br />

Entretanto, a médica veio outra vez e disse:<br />

- Olhe, se vir que está tudo muito mal, muito estragado aí para dentro, posso-lhe fazer a<br />

Ela insistiu em que laqueasse as trompas e eu disse:<br />

- Não sei, a senhora doutora faça o que entender.<br />

Ela é que era a médica... estava lá com cabeça para pensar se era a melhor solução!<br />

Depois quando acordei, ela disse-me logo:<br />

- Laqueei-lhe as trompas. Estava tudo muito estragado. Não pode ter mais filhos. O seu<br />

útero, estava parecia papel, a bexiga estava fora do sítio. Até disse:<br />

- Olhe, Deus é grande.<br />

Foi a resposta que me deu. Pronto, acabei por aceitar a laqueacão.<br />

Se tudo isto acontecesse uns anos atrás a minha revolta teria sido muito grande. Hoje,<br />

tenho outra maneira de ver as coisas.<br />

Não programei: "vou fazer", "não vou fazer". Não é propriamente tirar responsabilidade.<br />

Se as coisas aconteceram assim, deve ter algum motivo para ter que ser assim.<br />

como as pessoas são tratadas nas instituições hospitalares<br />

Em relação à forma como fui tratada nos hospitais senti que há muito pouca humanidade.<br />

Não posso dizer que abusaram do corpo, mas abusaram da pessoa. Acho que, infelizmente, se<br />

abusa da situação em que se está. Qualquer doente está dependente. Uma pessoa, quando está<br />

doente, não está bem, seja qual for a doença, está mais carente e muito mais submissa. Acho que<br />

consciente ou inconscientemente o pessoal abusa um bocado dessa situação. À partida já está<br />

numa posição superior, e ainda o mostra mais com determinadas atitudes. Isso também pode<br />

acontecer entre professores e alunos e tento sempre muito fugir a isso. Acho que é muito fácil cair<br />

nisso, até por uma questão de rotina.Tento não fazer uso do facto de estar, à partida, numa<br />

posição superior. Isso é inegável: tanto está o professor, como está o médico...<br />

Há rotinas, determinadas condutas que se têm nos serviços que não têm em atenção o<br />

doente. Contudo acho que tem que haver o mínimo de compreensão. Há um sistema, há uma<br />

certa sobrecarga e há coisas que têm que ser feitas de forma rotineira, não há hipóteses.<br />

Comparando dois serviços hospitalares, que é o caso da obstetrícia da instituição C e da<br />

instituição B, a diferença é como água do vinho. Começa na organização. Na instituição C, existe<br />

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