O CORPO EO CUIDAR NO FEMININO Maria Fernanda - Repositório ...
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Capítulo I<br />
O corpo, as experiências da gravidez e o cuidar no feminino - Construção de uma problemática<br />
marcado, por sinais semelhantes aos que foram tocados. Em relação aos desejos<br />
da grávida estes devem ser satisfeitos, senão a criança nasce com a boca aberta<br />
ou ougada. E, em relação ao prognóstico acerca do sexo da criança, se a mulher<br />
apresenta uma barriga redonda vai ter uma menina.<br />
O trabalho de parto entendido como momento doloroso para a mulher,<br />
constitui um acto social, veiculado a valores sociais e culturais, cujos ritos, ditos e<br />
preceitos se podem constatar pelas expressões "... darás à luz com dor os filhos<br />
..." Bíblia; "Uns golos de vinho do Porto dão força para puxar"; Parir é dor, criar é<br />
amor"; "O que é duro de passar, é doce de lembrar".<br />
O pós parto é marcado por um sem número de ditos, superstições e<br />
cuidados, igualmente transmitidos de geração em geração, nomeadamente: a<br />
mulher deve "guardar-se" no mês de parto; se a mulher não tiver as "dores de<br />
torta", a criança terá "dorzinhas"; trinta galinhas, uma por dia , a mulher come a<br />
canja, o homem a galinha; não pode lavar a cabeça, senão o parto sobe-lhe à<br />
cabeça; enquanto amamenta, a mulher não pode ir ao cemitério, senão seca-lhe o<br />
leite; as unhas da criança só devem ser roídas, de preferência pela madrinha; o<br />
coto umbilical é deitado ao lume para que os ratos o não apanhem, se o<br />
apanharem a criança será ladra - daí algumas mulheres na maternidade quando<br />
cai o coto umbilical, não deixarem que vá junto com os sujos, pedem para ficar<br />
com ele; no período de amamentação não deve dar restos da sua comida a uma<br />
cadela ou qualquer outro animal fêmea que esteja também a amamentar, senão<br />
seca-lhe o leite.<br />
No "período" menstrual relacionados com as actividades de vida do<br />
quotidiano da mulher, um certo número de cuidados estão proscritos. Não pode<br />
comer frutos de caroço. Não pode lavar a cabeça. Não pode tomar banho, só por<br />
partes. Não pode fazer bolos, porque não crescem, nem consegue bater as claras<br />
em castelo. Não pode ir ao cemitério.<br />
Os mitos, as crendices, as superstições não terminam por aqui, eles<br />
prolongam-se, vida fora. Muitas destas "inquietudes" ainda se mantêm por tradição<br />
e com um peso enorme, tornando-se por vezes difícil lidar/intervir nestas<br />
situações.<br />
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