As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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O homem partiu a cumprir as ordens. D. Pedro ficou só. Foi nesse instante<br />
que o Impera<strong>do</strong>r, muito choca<strong>do</strong>, o coração aos saltos, penetrou devagarinho no<br />
quarto <strong>do</strong> príncipe herdeiro. Que cena tocante! O menino <strong>do</strong>rmia na sua cama,<br />
<strong>do</strong>urada, sob o <strong>do</strong>ssel de damasco rosa. To<strong>do</strong> ele era inocência e graça. Muito<br />
gordanchu<strong>do</strong>, muito cora<strong>do</strong>, o pequenino Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil repousava entre<br />
fofezas, to<strong>do</strong> aninha<strong>do</strong>, <strong>do</strong>ce como um passarinho.<br />
Junto à cama, austera e grave, a Condessa de Belmonte, D. Mariana Carlota<br />
Verna de Magalhães, velava o <strong>do</strong>rmitar <strong>do</strong> pequerrucho. A preceptora de D. Pedro II<br />
estava fundamente acabrunhada. Os acontecimentos conturbaram-na. E ao ver entrar o<br />
Impera<strong>do</strong>r, ali, àquela hora, a camareira ergueu-se, surpresa. D. Pedro, pé ante pé,<br />
aproximou-se da cama. Olhou o filho. Viu-o resfolegar tão descansa<strong>do</strong>! Contemplou,<br />
com o coração golpea<strong>do</strong>, aquela criaturinha galante, aquele anjo de cinco anos, fino e<br />
trigueiro, em cuja fronte cintilava, desde há pouco, a coroa <strong>do</strong> Brasil...<br />
D. Pedro, fora sempre, em to<strong>do</strong>s os transes, um pai modelarmente bom,<br />
terníssimo. Sentiu, naquele momento, o coração confranger-se-lhe no peito. Naquela<br />
hora mais <strong>do</strong> que nunca, sentiu o pai amoroso a crueza da despedida. Aquele adeus<br />
rasgava-lhe a alma como um punhal. D. Pedro contemplou longamente o menino,<br />
longamente... Não teve coragem de acordá-lo! Curvou-se de manso, muito ao de<br />
leve: e pôs-lhe na carinha vermelha um beijo de fogo. <strong>As</strong> lágrimas jorram-lhe <strong>do</strong>s<br />
olhos, grossas e queimantes. Um acesso de choro, um explodir de soluços, sacudiu<br />
nervosamente o monarca. D. Pedro não pôde mais: saiu às tontas, cambaleante, <strong>do</strong><br />
quarto <strong>do</strong> principezinho...<br />
No mesmo instante, furtiva, em lágrimas, D. Amélia também veio despedir-se<br />
da criança. Entrou. Beijou-a na face. Fitou-a com ânsia. Depois, muito macia e<br />
tímida, depositou sobre o travesseiro uma carta. Era a sua despedida. Nela, em<br />
ternuras longas, a madrasta dizia um adeus cruciante ao frágil monarcazinho:<br />
"Adeus, órfão impera<strong>do</strong>r, vítima da tua grandeza antes que a saibas conhecer!<br />
Adeus, anjo de inocência e de formosura! Adeus! Toma este beijo, e este, e mais<br />
este... e este último! Adeus para sempre! Adeus!"<br />
Dentro em pouco, no lusco-fusco da manhã, descia as escadarias de São<br />
Cristóvão o Senhor D. Pedro de Alcântara. Seguia-lhe os passos a Senhora D.<br />
Amélia. Vinham sem corte. Não quis D. Pedro que os cria<strong>do</strong>s o acompanhasse.<br />
Timbrou em sair solitário <strong>do</strong> Paço. E na manhã bruxoleante, fúnebres e trêmulos, os<br />
<strong>do</strong>is vultos subiram ao coche. Ouviu-se um áspero ranger de rodas. Os cavalos<br />
arrancaram...<br />
E foi assim que os nossos primeiros Impera<strong>do</strong>res, aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s e<br />
destrona<strong>do</strong>s, partiram <strong>do</strong> Brasil, rumo <strong>do</strong> seu exílio.<br />
Naquele instante carrancu<strong>do</strong>, no instante da máxima desdita, ao ir-se para o<br />
desterro, um pensamento empolgava D. Pedro: qual seria o homem capaz de dirigir<br />
os destinos <strong>do</strong> seu filho? Qual seria, no Brasil, o homem capaz de ser tutor <strong>do</strong><br />
Impera<strong>do</strong>r pequenino? De ser o pai daquela criança de cinco anos?<br />
D. Pedro passou e repassou, no cérebro esbrasea<strong>do</strong>, os nomes <strong>do</strong>s seus<br />
amigos. Analisou-os. Balanceou-lhes as qualidades morais. E D. Pedro, naquele<br />
desfile, não encontrou, entre tantos antigos servi<strong>do</strong>res, um só que lhe parecesse à<br />
altura de tão magnífica responsabilidade. Mas eis que, dentro da sua consciência,<br />
surge repentinamente a figura dum homem. É a figura dum velho, figura olímpica e<br />
majestosa... Este, sim, este era digno de ser o tutor da criança. Este, sim, era digno<br />
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