As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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PLÁCIDO PEREIRA DE ABREU<br />
— Pláci<strong>do</strong>!<br />
www.nead.unama.br<br />
O favorito, que lia na antecâmara, acudiu imediatamente ao chama<strong>do</strong> <strong>do</strong> amo:<br />
— Majestade!<br />
— É hoje o aniversário da filha <strong>do</strong> Inhambupe?<br />
— É, Majestade. A moça completa hoje vinte anos...<br />
— E a que horas é a festa?<br />
— <strong>As</strong> duas, Majestade. O Marquês de Inhambupe não dá saraus à noite. O<br />
pobre homem anda muito ataca<strong>do</strong> da gota. A filha, à vista disso, oferece uma<br />
simples merenda aos amigos.<br />
D. Pedro, ouvin<strong>do</strong>, abriu o seu velho conta<strong>do</strong>r de jacarandá negro. Agarrou<br />
numa caixa de velu<strong>do</strong>, milto <strong>do</strong>nairosa, enfeitada gentilmente por um laçarote de fita.<br />
E viran<strong>do</strong>-se para o favorito:<br />
— Toma lá este mimo, Pláci<strong>do</strong>. É um bracelete craveja<strong>do</strong>. Leva-o de minha<br />
parte à filha <strong>do</strong> Inhambupe.<br />
O Pláci<strong>do</strong> sorriu. E D. Pedro, com o seu bom humor inextinguível, baten<strong>do</strong><br />
maliciosamente nos ombros <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>:<br />
— É bonita aquela rapariga, hein, Pláci<strong>do</strong>?<br />
E o Pláci<strong>do</strong>, um tanto embaraça<strong>do</strong>:<br />
— É linda...<br />
— Aquilo é que é mulher, oh! Pláci<strong>do</strong>: tu não achas?<br />
E o cria<strong>do</strong> confuso, com um sorriso amarelo:<br />
— É uma rapariga e tanto! Mas...<br />
— Mas o quê? Tornava D. Pedro irrequieto; vamos lá: mas o quê?<br />
— Mas é um perigo essa aventura de Vossa Majestade, afoitava o vali<strong>do</strong> com<br />
ares de prudência; a moça é solteira. A moça é filha <strong>do</strong> Inhambupe. O Marquês,<br />
além de homem probo, é ministro de Vossa Majestade. Tu<strong>do</strong> isso são coisas graves.<br />
Coisas de se ponderar. Vossa Majestade, portanto, precisa ter cautela. Muita<br />
cautela! Senão vem por aí um escândalo <strong>do</strong>s diabos...<br />
E D. Pedro, sempre estoura<strong>do</strong>:<br />
— Qual escândalo, qual nada! Não arrebenta coisa alguma. Depois, meu caro, o<br />
Marquês é como os outros. Um adula<strong>do</strong>r! É o ministro mais adula<strong>do</strong>r que eu já tive. O<br />
Marquês não me assusta. É deixá-lo... Trata, pois, de tecer a coisa, oh! Pláci<strong>do</strong>, e larga<br />
o resto por minha conta. Leva hoje, de minha parte, este presente à moça...<br />
D. Pedro, ultimamente, encaprichara-se amalucadamente pela rapariga. Raro<br />
o dia em que Sua Majestade não galanteasse a filha <strong>do</strong> seu ministro.<br />
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