As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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— Real, Real, Real, pelo muito Alto e muito Poderoso Rei D. João VI, Nosso<br />
Senhor!<br />
Que delírio! O povo desanda em gritos. Atroa o Terreiro <strong>do</strong> Paço uma<br />
algazarra bravia, Repiques de sinos sacodem o ar <strong>As</strong> fortalezas estrondam. Fogos<br />
de artifício japonizam o céu.<br />
Debaixo da baruheira, rin<strong>do</strong>-se, o ar de glória e festa, D. J0ão ergue-se E to<strong>do</strong><br />
aquele ban<strong>do</strong> suntuoso ondeia. Lá vai a caminho da Real Capela. Aí, sobre um<br />
troneto, rutilan<strong>do</strong> de luzes, há. uma relíquia <strong>do</strong> Santo-Lenho. El-Rei ajoelha-se. A<br />
corte inteira ajoelha-se. Sua Majestade beija a relíquia. Levanta-se. E enfim,<br />
majestosamente, senta-se no trono real, arma<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> altar. Rompe, no coro, a<br />
música de Marcos Portugal. Começa o 'Te-Deum"...<br />
A Capela Real abriu-se para o povo. Grossas ondadas de gente inundaram<br />
subitamente a nave. A igreja fervilhou. Não cabia dentro dela um alfinete. To<strong>do</strong> o<br />
mun<strong>do</strong> queria ver o Rei!<br />
Lá de cima, <strong>do</strong> alto duma tribuna, o Conde de Parati contemplava risonhamente<br />
aquele burburinho. De repente, com espanto, o cortesão deu de chofre com uma<br />
rapariga loira, muito linda, que cravava olhos sôfregos no trono. Era a Noemi, a<br />
bailarina <strong>do</strong> Teatro São João. A moça sorria. O Conde de Parati virou-se rápi<strong>do</strong>: ao<br />
la<strong>do</strong> <strong>do</strong> trono, desempena<strong>do</strong> e belo, D. Pedro fitava impavidamente a moça. E, por<br />
seu turno, diante da Corte, acintoso e chocante, mandava-lhe um sorriso escandaloso.<br />
O Conde de Parati, acotovelan<strong>do</strong> o Visconde de Magé, murmurou baixinho:<br />
* * *<br />
— Veja aquilo, Visconde!<br />
— É a paixão, meu amigo! É a paixão que faz daquelas coisas...<br />
E o Magé, apagan<strong>do</strong> a voz, num cicio:<br />
— Vossa Excelência já sabe o resulta<strong>do</strong> desses amores, não sabe?<br />
— O resulta<strong>do</strong> desses amores? Não sei...<br />
— Que diz?<br />
E misterioso, bem ao ouvi<strong>do</strong> <strong>do</strong> amigo:<br />
— Saiba, meu Caro Parati, que a francesinha vai ser mãe...<br />
O Conde de Parati olhou pasma<strong>do</strong> para o Visconde de Magé. Os seus olhos<br />
fuzilaram:<br />
— Vossa Excelência está certo disso?<br />
— Absolutamente certo! Contou-me o Pláci<strong>do</strong>. E o Pláci<strong>do</strong>, como Vossa<br />
Excelência bem sabe, é o amigo mais íntimo <strong>do</strong> príncipe...<br />
O Conde de Parati calou-se. Aquilo era muito sério. O escândalo mais<br />
ator<strong>do</strong>ante que poderia estourar aos ouvi<strong>do</strong>s de D. João. É que agora, exatamente<br />
naquele momento, el-Rei tratava <strong>do</strong> casamento <strong>do</strong> filho. O Marquês de Marialva já<br />
andava pela Europa a sondar as casas reinantes. Parece que a da Áustria...<br />
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