As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— Você está louco, homem! Não sabe o quê?<br />
— Vossa Alteza não sabe o que aconteceu a Noemi?<br />
www.nead.unama.br<br />
D. Pedro agarrou forte nos ombros <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>. Sacudiu-o violentamente:<br />
— À Noemi?<br />
— Pois Vossa Alteza não sabe? A menina partiu hoje para Pernambuco...<br />
— Para Pernambuco?<br />
— Sim, Alteza. Na corveta que acaba de sair <strong>do</strong> porto. Imagine Vossa Alteza<br />
o que aconteceu: D. João obrigou a pobre rapariga a casar-se com o tenente da<br />
Guarda. Deu-lhe cinco contos de <strong>do</strong>te...<br />
E desembuchou tu<strong>do</strong>. D. Pedro fremia. Os seus nervos estalavam. Os olhos<br />
ardiam-lhe, febrentos. Aquilo desordenara-o. Era <strong>do</strong>loroso como um punhal que lhe<br />
entrasse pelas carnes. Eis que o príncipe, no seu ator<strong>do</strong>amento, começa a tremer.<br />
De repente, sem saber como, uma nuvem passa-lhe pelos olhos. <strong>As</strong> órbitas dilatamse-lhe.<br />
Uma súbita rigidez penetra-lhe os músculos. A boca espumeja-lhe,<br />
sangrenta. E D. Pedro desaba pesadamente no chão.<br />
Era o ataque.<br />
Seis meses depois, em Pernambuco, morria a filha da bailarina. O General<br />
Luís <strong>do</strong> Rego, que governava a Província, ordenou para a bastardinha funerais de<br />
princesa. Houve grande luto oficial. Não se pejou o general em lançar mão de tão<br />
acintosa sabujice para ganhar o coração <strong>do</strong> herdeiro <strong>do</strong> trono. A criança foi<br />
embalsamada. Veio para o Rio. E dizem que D. Pedro, durante anos, guar<strong>do</strong>u na<br />
Câmara <strong>do</strong>s Pássaros, debaixo <strong>do</strong> alçapão, o cadaverzinho a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>, relíquia<br />
fúnebre da sua grande paixão da mocidade.<br />
O CASAMENTO DE D. LEOPOLDINA<br />
<strong>As</strong> negociações diplomáticas terminaram com êxito: assentou-se,<br />
definitivamente, que o Príncipe D Pedro de Bourbon e Bragança, herdeiro <strong>do</strong> trono<br />
de Portugal, <strong>do</strong> Brasil, e <strong>do</strong>s Algarves, casar-se-ia com D. Maria Leopoldina Josefa<br />
Carolina, filha de Francisco I, grande Arquiduquesa da Áustria. Faltava, apenas,<br />
solenizar o ajuste secreto <strong>do</strong>s gabinetes. Saíram <strong>do</strong> Rio, nesse senti<strong>do</strong>, ordens<br />
sérias para o Embaixa<strong>do</strong>r em Paris. <strong>As</strong> ordens eram de partir sem tardança para<br />
Viena: e aí, diante da corte austríaca, em nome de el-Rei pedir publicamente a mão<br />
da arquiduquesa. D. João ordenou, pelo mesmo correio, que as etiquetas <strong>do</strong>s<br />
esponsais tivessem um brilho nababesco.<br />
A aliança com a Áustria embebedara-o de gosto. E o rei desterra<strong>do</strong>, aquele<br />
rei gor<strong>do</strong> e burguês, timbrara vai<strong>do</strong>samente em estadear, ante a aristocracia<br />
faustosa de Viena, a grandeza da sua casa e a opulência <strong>do</strong>s seus reinos.<br />
O Embaixa<strong>do</strong>r em Paris era Pedro Joaquim Vito de Menezes Coutinho, o<br />
fidalguíssimo Marquês de Marialva, um <strong>do</strong>s sangues mais nobres e mais limpos da<br />
Península. Marialva recebeu as ordens como honra suprema. Aquela missão de<br />
galantaria, envaidece<strong>do</strong>ramente elegante, vinha <strong>do</strong>urar com refulgência os seus<br />
velhos brasões, já tão famosos na história da graça e da cortesanice. O fidalgo<br />
* * *<br />
17