As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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herdara de D. João VI. <strong>As</strong>sim, com esse dinheiro e com essas ordens, man<strong>do</strong>u o<br />
embaixa<strong>do</strong>r para a Europa. E no abraço de despedida, aconchegan<strong>do</strong>-o ternamente<br />
ao coração, pediu que lhe trouxesse uma noiva. Com o abraço, entregan<strong>do</strong> ao<br />
diplomata um papel confidencial, o Impera<strong>do</strong>r especificou as qualidades necessárias<br />
para que a noiva fosse <strong>do</strong> seu agra<strong>do</strong>. O papel dizia assim:<br />
"O meu desejo e grande fim é obter uma princesa, que, por seu "nascimento",<br />
"formosura", "virtudes", "instrução", venha a fazer a minha felicidade e a felicidade<br />
<strong>do</strong> Império. Quan<strong>do</strong> não seja possível reunir as quatro condições, podereis admitir<br />
alguma diminuição na "primeira" e na "quarta", contanto que a "segunda" e a<br />
"terceira" sejam constantes".<br />
Levava o Marquês, além dessa missão honrosíssima, a incumbência não<br />
menos subida de acompanhar à Europa D. Maria da Glória, já então D. Maria II,<br />
rainha de Portugal, aonde ia aperfeiçoar estu<strong>do</strong>s na corte de Viena.<br />
Barbacena partiu. Alto e belo, tipo magnífico de homem, o gentil-homem de<br />
Minas ostentou durante meses, pelas mais emproadas cortes européias, a sua forte<br />
e simpática estampa de plenipotenciário. Jorge IV recebeu-o com grande<br />
acolhimento. Luís XVIII, com muitas e decididas deferências. Francisco Leopol<strong>do</strong>,<br />
com as mais alevantadas honras e fulgores. Tratou, em Saint James, com o famoso<br />
Wellington. Em Paris, com o inofensivo Baron de Damas. Em Viena, com o<br />
perigosíssimo Metternich. Mas, tu<strong>do</strong> em vão! Naquele fulgente peregrinar de corte<br />
em corte, o diplomata brasileiro ouviu sempre, a cada investida de casamento, a<br />
mesma palavra humilhante, arrasa<strong>do</strong>ra: não! Bateu em todas as portas, son<strong>do</strong>u<br />
todas as casas reinantes, cortejou todas as princesinhas casa<strong>do</strong>uras: e sempre,<br />
como refrão, a mesma frieza, o mesmo recuo, o mesmo não! Não houve filha ou<br />
sobrinha de rei, não houve moçoila, por mais vulgar, mas em cujas veias corresse<br />
um grânulo de sangue azul, que não recuasse desdenhosamente a mão <strong>do</strong><br />
Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil! Foi uma vergonheira. <strong>As</strong> princesas da casa de Turim, as da<br />
Baviera, as de Wurtemberg, as de Nápoles, as da Sardenha, as <strong>do</strong>s Orleans, as de<br />
Holanda, as de... Céus! <strong>As</strong> princesas de toda a Europa disseram "não"! Ainda está<br />
por existir um soberano, na história <strong>do</strong>s povos, que sofresse, em matéria de<br />
casamento, tantos e tão categóricos vexames! Vocês, rapazes, que acaso já tiveram<br />
a <strong>do</strong>r de ouvir uma recusa da mulher amada, não se desalentem: consolem-se com<br />
o Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil, o Funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império, o homem que levou na vida as<br />
maiores e as mais escandalosas tábuas!<br />
Barbacena desanimara, enfim, com aquela enfiada de fracassos tristíssimos.<br />
E arrasa<strong>do</strong>, a pena em crepes, tracejou ao Amo a carta fúnebre:<br />
"Brilhante casamento, no esta<strong>do</strong> atual das coisas, não se consegue sem<br />
tempo, paciência, e muita dexteridade, visto que princesas só há presentemente na<br />
Alemanha, onde a influência de Metternich é decisiva. Digo que só há na Alemanha,<br />
porque as da Itália se recusaram; na França, Grã-Bretanha e Rússia não há; na<br />
Dinamarca, são horrendas; e o parentesco da Suécia não convém. É preciso<br />
parecer, em suma, que se não pensa por ora em casamento..."<br />
Foi nesse instante de suprema derrota, que, providencialmente, o Visconde<br />
Pedra Branca, ministro em Paris, lançou as suas vistas sobre uma sobrinhazinha <strong>do</strong><br />
Rei da Baviera. Tratava-se da princesa Amélia Eugênia Napoleona de<br />
Leuchtemberg. A moça era linda, lindíssima. Mas (verdade se diga!) não primava<br />
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