As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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www.nead.unama.br<br />
de piadas, para com esse seu disparatadíssimo amigo, umas ternuras imper<strong>do</strong>áveis.<br />
O Chalaça fascinou-o. Foi o seu fraco. Foi, talvez, a única afeição certa daquele<br />
incerto Bragança. Dai, <strong>do</strong> favoritismo incrível, resultou que o poderio desse homem<br />
não encontrou limites. Num determina<strong>do</strong> momento — pode-se proclamar<br />
afoitamente — o vali<strong>do</strong> man<strong>do</strong>u à vontade no Brasil. Conseguia tu<strong>do</strong>. Fazia e<br />
desfazia. Diga-se sem receio: o Chalaça, num da<strong>do</strong> instante, repartiu com D. Pedro<br />
o poder supremo. Não há exagero nisso. Armítage, testemunha presencial,<br />
historia<strong>do</strong>r severo e reto, diz textualmente:<br />
"O caráter <strong>do</strong>s políticos de que o Impera<strong>do</strong>r se cercara não assegurava a<br />
confiança pública. A frente destes, estava um português de nome "Chalaça". Tinha<br />
um caráter bulhento, extravagante, insolente e dissipa<strong>do</strong>. De simples cria<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paço<br />
foi promovi<strong>do</strong> a ajudante da Guarda de Honra e Secretário Priva<strong>do</strong>. E tão grande<br />
ascendência ganhou sobre D. Pedro, que se pode avançar sem rebuço que<br />
PARTILHAVA COM ELE A AUTORIDADE SUPREMA!"<br />
Mas não é só Armitage. To<strong>do</strong>s os que trataram, nesse tempo, com o curioso<br />
personagem, apregoam a incontrastável influência dele. João Loureiro, que viveu<br />
pelas Secretarias de Esta<strong>do</strong>, que conferenciou com to<strong>do</strong>s os Ministros, que passou<br />
anos na Corte a deslindar negócios atrapalha<strong>do</strong>s, afirma-o nas suas cartas, alto e<br />
firme. Eis uma delas:<br />
"O Impera<strong>do</strong>r disse-me que ele sempre estaria pronto para me ouvir. Mas, se<br />
quisesse, eu dissesse a Francisco Gomes QUE ERA O MESMO QUE TRATAR<br />
COM ELE".<br />
Eis outra:<br />
"He sabi<strong>do</strong> que, nestes negócios de Portugal, quem se abaixa a Francisco<br />
Gomes, quem vai com as suas chalaça, e quem o elogia, e serve com humilhação,<br />
tem si<strong>do</strong> sempre atendi<strong>do</strong>".<br />
E noutra parte:<br />
"E a to<strong>do</strong>s aqui está fechada a alta política, menos a Francisco Gomes. Mas<br />
este não fala senão em petiscos e moças: aqui tem V. Sa. como isto por cá vai".<br />
Melo Morais, por seu turno, di-lo categoricamente. <strong>As</strong>sim:<br />
"Estes <strong>do</strong>us vali<strong>do</strong>s (o Chalaça e o João Pinto), ambos portugueses, ambos<br />
debocha<strong>do</strong>s, corrompi<strong>do</strong>s, ignorantes, e de baixo nascimento, eram os mais<br />
perniciosos, PORQUE ERAM OS QUE GOZAVAM EM GRÃO MAIS SUBIDO DA<br />
CONFIANÇA E ESTIMA DO IMPERADOR".<br />
Quem é afinal, esse homem tão em destaque?<br />
Quem é esse íntimo de D. Pedro? Quem é esse enigmático personagem, tão<br />
enigmático que a História <strong>do</strong> Brasil, a História com H maiúsculo, nem sequer se<br />
digna de lhe mencionar o nome? É fácil dizer.<br />
O Chalaça nasceu em Portugal. Era filho de Antônio Gomes da Silva, ourives<br />
<strong>do</strong> Paço. Veio para o Brasil com a fuga de D. João VI. Chamava-se, antes de ser o<br />
Chalaça, burguesmente, Francisco Gomes da Silva. Tocava violão, cantava lundus,<br />
era grande amigo de ceiatas, muito petisca<strong>do</strong>r de mulherinhas. Aqui, no Brasil, para<br />
tentar fortuna, experimentara tu<strong>do</strong>: fora barbeiro, fora ourives, fora seminarista, fora<br />
até cria<strong>do</strong> de galão!<br />
Mas o destino, por um desses caprichos de espantar a gente, reservara a<br />
esse aventureiro, a esse boêmio, a esse famigera<strong>do</strong> berra<strong>do</strong>r de modinhas, uma<br />
sorte brilhantíssima. D. Pedro, numa das suas noitadas de príncipe estróina, topara<br />
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